terça-feira, 11 de outubro de 2022

“ O PENSADOR ”


A MÍSTICA

Em Angola, “O Pensador” tem origem numa "tradição inventada" ou "convencionada".

Conta-se que “O Pensador” tem a seguinte origem: No nordeste de Angola existe o cesto de adivinhação, o ngombo, e o adivinhador usa pequenas figuras, esculpidas em madeira, as quais irão determinar a sorte do consulente. Curiosamente, foram estas figurinhas que vieram a inspirar a famosa figura nacional de “O Pensador”.

Usualmente feita de madeira, a escultura caracteriza uma mulher sentada com os cotovelos sobre os joelhos e mãos à cabeça, como se estivesse a pensar. Acredita-se que a sua figura oval diz respeito à ligação do homem com as forças da natureza.
A estatueta possui várias lendas, entre elas, uma, segundo a qual “o Pensador” era usado como um amuleto para a adivinhação e elo para as preces das adivinhas que invocavam o espírito dos antepassados.

Ela representa a figura de um ancião que pode ser uma mulher ou um homem. Concebida simetricamente, com a face ligeiramente inclinada para baixo, exprime um subjectivismo intencional porque, em Angola, os idosos ocupam um estatuto privilegiado. Os mais velhos representam a sabedoria, a experiência de longos anos e o conhecimento dos segredos da vida.

Esta peça, conforme a tradição, servia, supostamente, de vínculo entre o mundo dos vivos e o espírito dos antepassados que têm a função de zelar ou lesar as pessoas tanto de dia como de noite.
Também reza ainda a história que “o Pensador” era uma escultura que, de noite, se tornava num humano, por meio de sacrifícios de pessoas da localidade ou inimigos. Como humano, era de estatura alta, forte e guerreiro, que comandava a sua tribo nas guerras contra as outras etnias. Com isso, conquistavam terras, respeito e medo diante de outros povos. Por estas destrezas, o colono português obrigou as autoridades tradicionais a “confinarem” a estátua no Museu do Dundo.


REFERÊNCIAS DIVERSAS 

Na realidade, a escultura designada “O Pensador” é uma das mais belas estatuetas de origem tchokwe, constituindo hoje um referencial da cultura inerente a todos os angolanos, visto tratar-se do símbolo da cultura nacional.

Esta imagem é, hoje, uma figura emblemática de Angola, que aparece inclusive na filigrana das notas de kwanza, a moeda nacional. É considerada uma obra de arte nativa fidedignamente angolana. À semelhança de qualquer figura emblemática de um povo é como, por exemplo, o "Zé Povinho" em Portugal, o "John Bull" na Inglaterra ou, o "Tio Sam" nos Estados Unidos.

Museu do Dundo


 As primeiras figuras de “O Pensador” foram esculpidas nas oficinas do Museu do Dundo, no final da década de 40 do século XX. Em 1947, por iniciativa da Diamang, a então Companhia dos Diamantes da Lunda, foi criado na povoação do Dundo um museu de arte tradicional e de colecções arqueológicas e etnográficas.

Funcionários da empresa, na maioria belgas e portugueses, contrataram artesãos locais e incentivaram-nos a esculpir na madeira, ou a modelar no barro, figuras que fossem genuinamente angolanas mas, ao mesmo tempo, que as suas formas se aproximassem de uma estética que julgavam ser mais convencional no sentido ocidental.

Considerada a jóia da cultura angolana, também conhecida na etnia Côkwe como “Samanhonga”, ganhou o estatuto de símbolo nacional em 1984.
O Samanhonga (original) foi esculpido por um dos membros da família Muakanhika, na República Democrática do Congo (RDC), e veio parar na região Leste do país, na província da Lunda Norte, devido à imigração do povo Côkwe para Angola. Entre os povos imigrantes, estavam, sobretudo, as famílias Muakanhika, Muandumba, Tetembo ou Muatchissengue Muatembo e Muambuba.
Da peça original, começaram a ser esculpidas, nas oficinas do Museu do Dundo, nos finais da década de 40 do século XX, as suas réplicas. Em 1947, por iniciativa da Diamang, a então Companhia dos Diamantes da Lunda, foi criado, na povoação do Dundo, um Museu de Arte Tradicional e de Colecções Arqueológicas e Etnográficas.
Museu do Dundo


Hoje, pode-se adquirir estatuetas de “O Pensador” em galerias, lojas e feiras de artesanato, em diferentes dimensões e materiais, como lembrança de Angola.

 


Nota: Texto com diversas pesquisas e acumulação de fotos feito por V. Oliveira


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