terça-feira, 20 de setembro de 2022

AS MINHAS VISITAS A WATERLOO



Desde que me conheço e sou gente sempre gostei de Histórica de Portugal, Aritmética e mais tarde História Universal e Matemática.
Esta última disciplina escolar, a par de outras complementares, permitiram-me evoluir com alguma facilidade no ramo da Física, em Aerodinâmica e Termodinâmica, que em linguagem acessível será a Ventilação Industrial, Arrefecimento, Aquecimento, Transporte Pneumático e Despoeiramento. Criei uma firma que funciona activamente e que é das mais antigas do sector industrial com instalações e trabalhos em todo o Portugal, Espanha e França.
Hoje estou reformado e há cerca de 10 anos comprei uma casa beirã em Argomil, no concelho de Pinhel. Estava em ruínas, reconstruí-a com todas as novas noções de isolamento acústico e térmico sem lhe estragar a traça, e serve agora de refúgio para mim e toda a família, que é grande. Na reconstrução, o empreiteiro destruiu vestígios da passagem de cristãos novos que se fixaram na aldeia após a expulsão dos Judeus feita por D. Manuel I. Bem perto, na mesma aldeia, junto do forno da casa do nosso amigo Simão Cabral, existem inscrições desse passado com mais de 500 anos.

Como tenho muito tempo livre já conheço todas as aldeias na periferia, até Figueira Castelo Rodrigo ou Sabugal.
Visito com frequência os locais onde se deram os infelizes acontecimentos na primeira e terceira Invasões Francesas, as zonas das batalhas, o pouso dos generais intervenientes, aquartelamentos, inclusive as aldeias mais castigadas como Souro Pires e Atalaia.
 Gen.Louis Henri Loison
Na primeira Invasão, enquanto Junot esteve sempre em Lisboa e arredores, somente parte do seu exército foi submeter o Alentejo e Algarve. O seu braço direito, Loison o "Maneta", entrou em roda livre em Almeida e Pinhel sem oposição e dedicou-se a roubar, flagelar, violar e fuzilar todas as populações que se lhe resistissem. Hoje, há muitos descendentes no Distrito da Guarda dos bastardos produzidos pela guerra.
Este general foi chamado a Lisboa para suster revoltas e ainda foi fazer uma razia ao Alto Alentejo que culminou em Évora com a matança de 4.500 pessoas entre militares e civis. Foi novamente chamado a Lisboa, mas não participou a tempo na Batalha de Roliça, que o exército Anglo-luso ganhou. Na Batalha crucial de Vimeiro, que ditou a saída dos Franceses de Portugal, Loison ficou com o Exército de reserva e o general Inglês Sir Arthur Wellesley mesmo ganhando a batalha procurou a paz e elaborou a Convenção de Sintra que permitiu aos Franceses levarem o produto dos roubos e serem transportados por navios do Almirantado até Baiona, França.
Não há justificação, somente têm sentido informações militares falsas ou boatos que o levaram a pensar que os franceses estavam a reunir um grande exército vindo da Andaluzia. Já tinha sabido da chacina de Évora feita pelo Loison e o exército inglês estava cansado.

Gen. Arthur Wellesley
Arthur Wellesley vinha à frente de um Exército formado em Inglaterra e desembarcou na Galiza para dar apoio, uniformes e armamento aos patriotas espanhóis que também combatiam os franceses, no entanto declinaram ajuda de homens. Aí, os ingleses, tomaram conhecimento da revolta do Porto, e Wellesley dirigiu-se a esta cidade onde conferenciou com o Bispo D. António José Castro, que era o representante máximo da cidade e arredores, em meados de Julho de 1808. Este deu-lhe também algum armamento e uniformes. Seguiu para sul, desembarcou em Lavos (Figueira da Foz) e a 1 de Agosto de 1808 tomou o Forte de Stª. Catarina e expulsou as guarnições Francesas de Montemor-o-Velho, Soure e Coimbra.
A ajuda portuguesa prometida pelo Bispo do Porto foi miserável.
Gen. Bernardim Freire
de Andrade
O Gen. Bernardim Freire de Andrade furtava-se das batalhas e inventava problemas, tinha uma propensão natural para cobarde. Os ingleses, ajudados por poucas tropas portuguesas, limparam o caminho de guarnições francesas desde Peniche, Óbidos e Mafra, provocando a Batalha de Roliça onde os franceses tiveram a primeira grande derrota no dia 17 de Agosto de 1808, um dia de extremo calor.
No dia 21 de Agosto dá-se a batalha decisiva no Vimieiro, com 13500 franceses e 18000 Anglo-lusos, que provocou a rendição dos franceses.

Pelos feitos extraordinários em Portugal e Espanha bem como pelas tácticas militares implementadas, Sr. Arthur Wellesley foi nomeado Duque de Wellington.
Fez-me aquecer o apetite de conhecer o local onde se decidiu a capitulação dos sonhos de Napoleão de reinar na Europa. Foi precisamente em Waterloo, planície onde se deu a batalha do mesmo nome, outrora numa aldeia da Valónia, perto da cidade histórica de Charleroi a 80 km de Bruxelas.

Há 8 anos aterrei em Bruxelas, aluguei um carro e durante 3 dias visitei a região assim como percorri Dunquerque, igualmente celebre pela solidariedade dos ingleses que disponibilizaram tudo que era embarcação para o exército aliado encurralado pelo poderio nazi pudesse regressar a Inglaterra.​


Quando a batalha de Waterloo decorria, a meio da tarde de 18 de Junho de 1815, tudo estava favorável aos franceses comandados pelo Marechal Ney, que tinha infligido grandes perdas na planície aos ingleses e aliados através de salvas poderosas de artilharia.
Marechal Michel Ney
De repente, os cavaleiros sobreviventes fugiram a subir o monte de Saint Jean, montanha artificial, e Ney não percebeu que era uma manobra de génio de Wellington: quis, então, colocar a sua cavalaria no seu encalço. Napoleão presente, que tinha sido acometido de uma cólica, em convulsões gritou: “Não Ney, não vás!”. Este ignorou-o e preparou o ataque ao monte. Desconhecia que a infantaria aliada estava no lado oculto formada em quadrado com arpejos contra cavalos. A cavalaria inglesa, que entretanto já fizera muda de cavalos frescos e mais reforçada, esperou a chegada dos franceses, cansados, cavalos incapazes e sem alma. Foram derrubados e na acção conjugada com a Infantaria, morreram alguns milhares.
O general Prussiano Brükner foi o maior algoz da batalha, vingou todos os atropelos e actos que os franceses praticaram na sua terra desde as campanhas napoleónicas na Europa.
O Marechal Ney foi o bode expiatório.

Napoleão foi desterrado definitivamente para Stª. Helena no fim de 1815. Depois de um julgamento militar com uma acusação de traídos, os franceses dificilmente podiam perdoar-lhe. 
Foi executado a 7 de Dezembro de 1815, em Paris, com uma prévia declaração patriota, que dedicou aos franceses cuja opinião histórica ficou dividida.

O Ney esteve em Portugal na terceira invasão francesa, era o Chefe de Estado Maior do Marechal André Massena e houve graves problemas entre eles. Foi o responsável pelo cerco e queda de Almeida, entre 14 e 28 de Agosto de 1810, tomou posse da fortaleza, aprisionou o comandante, o Cor. William Cox e milhares de soldados, mandou muitos portugueses para França e outros desertaram ou fugiram e juntaram-se às tropas de Wellington e Gen. Silveira. A preparação do cerco de Almeida e a forma de atacar as muralhas em altura é um facto que tem referências geniais na engenharia militar das Invasões Francesas.
Mont Saint-Jean 


Quando visitei pela primeira vez Waterloo as zonas da Batalha e estacionamento das tropas estavam em grandes escavações, no entanto podia-se visitar o Monte Saint-Jean.
A minha mulher, que aprendeu a gostar de História, quis subir a montanha artificial e eu fiquei cá em baixo num Bar Gigante com mais de 20 cervejas à pressão e uma quantidade infindável à garrafa.
Enquanto ela foi deambular, verifiquei e revivi os acontecimentos de mais de 2 séculos. Na altura, tinha mais de 100 kg e não dava jeito subir a montanha. No Bar bebi duas canecas iguais àquelas que tanto aprecio na Oktoberfest, em Munique. Sem que eu contasse, ouvi falar português. Era um grupo de motoqueiros emigrados na Alemanha que faziam romagem às grandes fábricas de cerveja da Bélgica, que os apreciadores sabem que neste país é das melhores do mundo. A D. Fernanda entretanto chegou arrasada, ao fim de 2 horas e disse que gostou. Fomos almoçar no centro da Vila de Waterloo em frente do Hotel Wellington, que confecciona o famoso bife Wellington.

Há 6 anos fui novamente à Bélgica ver um jogo de futebol do meu clube de eleição e, como tinha muito tempo livre, obriguei os meus amigos de viagem a ir ver Waterloo. Foi uma desilusão… tinham acabado as escavações, o bar deu lugar a um hotel de luxo, passou a ser proibido visitar o famoso monte. As recordações da Batalha estão representadas em placas de bronze.


Tem agora um Centro de Interpretação da Batalha de Waterloo, um edifício subterrâneo estilizado onde se vendem recordações ao estilo de Fátima ou Lurdes, como pratos, canecas, lápis, camisolas, entre outros.
Até parece que copiaram as loucuras portuguesas como:
-Centro de interpretação da obra de Miguel Torga;
-Centro de interpretação dos vestígios arqueológicos da Serra d’Arga;
-Centro de interpretação das gravuras do Vale do Côa.

Enfim, estragamos o que era belo para dar lugar à cultura dos iluminados.


Por: José Ferreira (Toneta)
Agosto 2022

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