MINA DO AZECHE – PATRIMÓNIO À BEIRA-MAR ESQUECIDO
PRIMEIRA PESQUISA DE HIDROCARBONETOS REALIZADA EM PORTUGAL
A Mina, sita junto a Paredes da Vitória, Pataias, Alcobaça, constitui actualmente um valioso património histórico, que se tem perdido ao longo dos últimos anos e acerca da qual pouco se conhece do seu passado.
Para já é necessário desmistificar o conceito da palavra “Azeche” que significa terra escura, também conhecida como Terra-de-Sevilha, empregada para tingir de preto, sendo um termo árabe de origem persa.
Desde a Mina até Vale Furado, numa extensão de 2 Km, são visíveis os afloramentos do Cretáceo Inferior e Superior (65 a 145 milhões de anos) e Terciário. Integram arenitos fluviais, calcários e conglomerado, tendo sido encontrados alguns fósseis de répteis e mamíferos nos arenitos.
ARRIBA
Ainda nestas arribas é possível identificar diversas anomalias geológicas petrográficas e químicas, nomeadamente vestígios de fragmentos de uma rocha escura que foram identificados por geólogos como resultantes do impacto de um grande meteorito, que ao colidir com a superfície terrestre terá formado uma grande cratera conhecida como “Cratera de Thor”, e ejectado fragmentos pelas regiões periféricas. São fragmentos de cor negra, que aparecem destacados em rochas calcárias de cor clara, nas arribas da Mina do Azeche e Valinhos (mas também, em menor quantidade, na praia das Paredes da Vitória e Vale Furado). De acordo com algumas investigações, estes vestígios, conhecidos com o “ejecta”, terão sido provenientes deste impacto.
Para se encontrar hidrocarbonetos são necessários três tipos de rocha: Rocha-mãe, que se encontram na Pedra-do-Ouro; rochas-depósito, que se encontram aparentemente no vale da Mina e ainda rochas-selantes, que são os calcários que se encontram na região.
Na Mina do Azeche, existem sedimentos betuminosos, e estes materiais não poderiam existir se alguns séculos antes a convulsão geológica por que passou a terra não encontrasse arvoredo a soterrar, junto à costa.
De toda a pesquisa efectuada, sem dúvida alguma que a primeira extracção de hidrocarbonetos em Portugal, se realizou de facto na Mina do Azeche, não existindo qualquer exploração registada anteriormente, em Portugal, sendo esta considerada um novo tipo de indústria.
A exploração no Canto do Azeche, junto ao Vale de Paredes, remonta a 1843. No entanto, só a 27 de Março de 1844 é redigido o primeiro alvará de concessão pela Rainha D. Maria II.
MINA DO AZECHE 1843 A 1930
Todos os documentos que remetem para o início da exploração, referem a descoberta em 1843 de uma Mina de Asfalto pelo Engenheiro Pedro José Pezerat, a meio do penedio da encosta na praia do Canto do Azeche (como era conhecida na altura a actual Praia da Mina), o que nos leva a acreditar que outrora se tenha realizado alguma exploração mineira naquele local a céu aberto, porque não existe qualquer referência a galerias.
No “Memorial sobre a Mina de asfalto de Azeche” sabe-se que na primeira extracção, abriram uma vala na praia, junto à barreira, com aproximadamente um metro abaixo do nível médio das águas do mar, na qual surgiu imediatamente o asfalto.
O resultado das primeiras extracções foi aplicado em grande escala no asfaltamento da Rua do Arsenal em Lisboa, no Palácio de Bragança, nas Reais cavalariças de Belém e na Alfândega de Lisboa. Só no ano de 1844, exportaram-se mais de 33.800 arrobas de asfalto.
Segundo os registos, até meados de 1847 todo o mineral foi embarcado para Lisboa, no porto da Pederneira, proximidade da Nazaré. Até à Pederneira o produto extraído da mina era levado por via terrestre.
A primeira referência que existe à Fábrica da Mina, é de meados de Janeiro de 1857, dando conta da construção das caldeiras. Foi com a administração de Charbonnel que a fábrica tomou outro rumo, na qual foram adquiridos diversos novos aparelhos e toma um novo fôlego. O principal objectivo da fábrica visava a refinação do betume, e outras transformações e experiências que se realizavam com este mineral.
FÁBRICA DE PRODUTOS QUÍMICOS
O início da construção desta nova fábrica remonta ao final de 1858, sob a direcção da firma social Charbonnel Salle, Armand e Companhia, não fazendo o Marquês parte desta sociedade.
A PRODUÇÃO DE CAL HIDRÁULICA E CIMENTO ROMANO
Ao que tudo indica, no início de 1858, Charbonnel necessitava de cal hidráulica para o betão das caldeiras e de outros aparelhos. Armand informou-o que a pedra da Polvoeira daria boa cal. Dirigiram-se então à Polvoeira e, com alguns carros transportaram pedra para cozer num pequeno forno feito propositadamente para o efeito, que dista cerca de 60 a 70 metros das casas de habitação adstritas ao núcleo da Mina do Azeche.
Em Abril de 1858 é construído na Polvoeira um forno para fabricar cimento romano e outro para cal hidráulica.
Também em 1858 foi construído um forno para cozer telhas e outros materiais para a construção do restante complexo industrial, isto, já na Mina.
Por volta dos anos de 1859/1860 existe referência a 20 caldeiras que produziam cerca de 3 toneladas de alcatrão e seis cilindros para extrair óleo do alcatrão (utilizado na conservação de madeiras), chegando a trabalhar 24 horas por dia. Nessa altura, encontravam-se empregues, quarenta homens (dois para cada caldeira), dois homens para aquecer os fornos, dez homens na exploração da mina, dois pedreiros, dois carpinteiros e outros dois homens a rachar lenha.
Em 1860 foi construído um moinho movido a água que servia para moer o asfalto retirado da mina porém, pouco funcionou. Em Julho de 1894, José Francisco Camões, sobrinho da Marquesa de Rio Maior, visita a Mina do Azeche e dá conta que as minas teriam abatido, que os barracões só teriam as paredes, as casas de habitação estavam desfalcadas de madeira e telha e que apenas uma das casas era habitada pelo guarda José André.
MINA DO AZECHE 1931 ATÈ À ACTUALIDADE
Para além do asfalto foi também extraído enxofre. A Mina laborou irregularmente até ao início dos anos 50, o que provou novamente que os encargos com a exploração eram muito elevados não compensando, desta forma, a sua exploração. As galerias foram ainda abertas durante este período assim como foi aberto um poço.
Já nos anos 50 a Companhia abandona a exploração deixando algumas dívidas para com os trabalhadores. Segundo os testemunhos orais, nos anos 70 é dividida a propriedade, pelo antigo guarda Zé Bruno, que a distribuiu como forma de pagamento.
Até à divisão dos terrenos eram bem visíveis as ruínas das casas, dos armazéns, e da antiga fábrica de produtos químicos, que se situavam onde hoje é a discoteca “ A Mina” e as suas habitações vizinhas.
DISCOTECA “A MINA”
Neste local existia uma fábrica de produtos químicos. Começada a construir em 1858, só em 1859 esta se encontrava praticamente concluída. Supostamente por causa de uma zanga entre os dois sócios (Luís Germano Charbonnel Salle e Armand), a fábrica nunca foi totalmente concluída.
Nota: Extractos históricos retirados do livro “Mina do Azeche” de Tiago Inácio, e pequenas anotações com fotos de V. Oliveira.
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