(O mais
glorificado soldado da Revolução Americana é praticamente desconhecido em
Portugal)
- NATURAL
DA ILHA TERCEIRA, AÇORES
- PARTICIPOU EM CINCO BATALHAS
- FERIDO SEIS VEZES
- ESCAPOU À MORTE DUAS VEZES
- TEM CINCO MONUMENTOS NA COSTA ESTE DOS ESTADOS UNIDOS
- É CHAMADO O "HÉRCULES DA REVOLUÇÃO"
A história de um valente soldado e Portugal nunca se lembrou deste Herói (provavelmente nem sabe…)
Pedro Francisco Machado, nasceu em Porto Judeu na Ilha Terceira, Açores, em 1760, e faleceu em Richmond, nos Estados Unidos, em 16 de Janeiro de 1831.
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Porto Judeu |
Conhecido como "O Gigante da Virgínia", o "Gigante da Revolução" e, ocasionalmente, como o "Hércules da Virgínia", é homenageado pela comunidade portuguesa em New Bedford (Massachusetts) a 15 de Março.
Lutou ao lado de George Washington e do marquês de Lafayette, tendo sofrido numerosos ferimentos em combate, em defesa da independência de sua pátria de adopção e, foi nesse dia (15 de Março) que, em 1781, se feriu na batalha de Guilford Courthouse, decisiva na Revolução Americana. Foi uma das batalhas que levou à capitulação britânica, assinada pelo general Charles Cornwallis a 19 de Outubro daquele mesmo ano) .
A sua biografia está cercada de uma aura de lenda, sendo-lhe atribuídos feitos extraordinários. As suas origens são relativamente obscuras. Foi encontrado em tenra idade (presumivelmente cinco anos), numa tarde em 23 de Junho de 1765, a chorar, nas docas de City Point, na Virgínia.
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Descendentes em 1900 |
Quando se acalmou o suficiente para falar, percebeu-se que não falava o inglês e sim uma língua parecida com o Português. Embora nada possuísse que o identificasse, as suas roupas eram de boa qualidade e, na fivela do cinto, liam-se as iniciais "P.F.".
Eventualmente foi capaz de contar a sua história: afirmou que "estava num local lindo com palmeiras, a brincar com a sua pequena irmã, quando dois homens grandes os apanharam. A irmã conseguiu libertar-se dos captores mas o menino não, e foi levado para um navio grande que acabou por conduzi-lo a City Point.
Sobre as suas origens, o investigador John E. Manahan identificou que, nos registos de nascimentos da ilha Terceira, nos Açores, existe um Pedro Francisco nascido em Porto Judeu, a 9 de Julho de 1760.
A criança foi acolhida pelo juiz Anthony Winston, de Buckingham County na Virgínia, um tio de Patrick Henry.
Quando atingiu idade suficiente para trabalhar, foi instruído como ferreiro, devido ao seu enorme tamanho e força (ultrapassou os 1,98 metros e pesava cerca de 120 kg). O escritor Samuel Shepard, que observou o jovem no seu trabalho, registou:
"Os seus ombros são como os
de uma antiga estátua, como uma figura da imaginação de Miguel Ângelo, como o seu Moisés mas não como David. A sua queixada é longa, forte,
o nariz imponente, a inclinação da testa parcialmente ocultada pelo seu cabelo
negro de aspecto desgrenhado. A sua voz era suave, surpreendendo-me, como que
se um touro ganisse."
Com os rumores de secessão alastrando-se entre a população da
Virgínia, Francisco alistou-se aos 16 anos no 10º Regimento da Virgínia.
Estava presente, junto à igreja de St. John em Richmond, quando Patrick Henry
fez o seu famoso discurso "Liberdade ou Morte".
Em Setembro de 1777, serviu sob o comando do
general George Washington em Brandywine Creek na Pensilvânia, onde as forças dos
colonos tentaram deter o avanço de 12.500 soldados britânicos que avançavam em
direcção à Filadélfia. Não está claro se foi nesse momento que o jovem
Francisco salvou a vida a Washington, apesar de se reconhecer que o jovem foi
aqui alvejado. Alguns relatos afirmam que ele se tornou guarda-costas pessoal
do general, enquanto outros dão conta de que ele era apenas um soldado
agressivo e vigoroso, que lutou a seu lado.
Foi Washington quem
determinou que uma espada especial, adequada ao seu tamanho, fosse feita
para presentear Francisco. Foi esta espada, com 6 pés (1.82m) de comprimento,
que aterrorizou os britânicos. Washington terá eventualmente feito uma
referência a Francisco, dizendo: "Sem
ele teríamos perdido duas batalhas cruciais, provavelmente a guerra e, com ela,
a nossa liberdade. Ele constituiu um Exército de um Homem Só."
Após servir nesta
comissão por três anos, Francisco realistou-se e combateu numa das
maiores derrotas sofridas pelas forças dos colonos no conflito. Na batalha de Camden, em16 de Agosto de 1780, terá realizado um dos seus mais famosos feitos quando, após os colonos
se terem retirado diante dos britânicos, deixando no terreno uma imensa peça de
artilharia com aproximadamente 1000 libras, afirma-se que Francisco a colocou
às costas e a terá transportado para que não caísse nas mãos do inimigo.
Em homenagem a esse feito, os correios dos Estados Unidos emitiram em 1974 um selo comemorativo.
Em pouco tempo, as histórias a respeito de Francisco foram sendo espalhadas
e divulgadas em muitos jornais e romances à época, inspirando ânimo e
incentivando a resistência entre as forças dos colonos.
Embora a maior parte dessas histórias careça de fontes documentais, Frances
Pollard, da Virginia Historical Society, que apresentou uma
exposição sobre o conflito que incluiu uma secção sobre Francisco com o colete
gigante que costumava usar, afirmou:
"Acho que uma das coisas que
tive dificuldade em documentar foi a sua participação em muitas das batalhas
onde realizou feitos históricos. Nunca consegui separar a lenda dos factos, nem
encontrar provas da sua participação nalgumas destas batalhas. Acho que existe
alguma mitologia associada a alguém com aquele tamanho tão fora do vulgar."
Posteriormente, em 1850, o historiador Benson Lossing registou no "Pictorial Field Book of the Revolution" que "um bravo virginiano deitou abaixo 11 homens
de uma só vez com a sua espada. Um dos soldados prendeu a perna de Francisco ao
seu cavalo com uma baioneta. E enquanto o atacante, assistido pelo gigante, puxava pela baioneta,
com uma força terrível, Francisco puxou da sua espada e fez uma racha até aos
ombros na cabeça do pobre coitado!"
Mais tarde, enquanto se recuperava, Francisco tornou-se amigo de Lafayette.
Francisco sofreu mais seis ferimentos enquanto ao serviço do seu país,
tendo morto um número incerto de britânicos e sido condecorado ao final do
conflito por generais americanos que se certificaram de que ele estava presente
na rendição do general Charles Cornwallis e dos
britânicos em Yorktown, a 19 de Outubro de 1781.
De acordo com a tradição, após o conflito, devido às lendas criadas em
torno de si, muitos aventureiros foram ao seu encontro para testarem a sua
força. Neste período foi apelidado de "o homem mais forte da América", enquanto as crianças
aprendiam sobre a sua forças e bravura nas escolas primárias do novo país.
Eventualmente tornou-se um homem abastado, sendo nomeado beleguim da
Câmara de Representantes da Virgínia, mantendo-se uma figura lendária até à sua
morte. Foi sepultado com honras militares no Cemitério Shockoe Hill em Richmond, na Virgínia.
A 18 de Janeiro de
1831, o periódico "Richmond Enquirer", anunciou a sua morte: "Exmo. Sr. Peter Francisco, beleguim da
Câmara de Representantes e soldado da Guerra da Revolução Americana, enaltecido
pela sua coragem intrépida e pelos seus feitos brilhantes."
Uma capa de uma edição de 2006 da "Military History"
levantou uma questão de retórica que sugeria que ele poderia ter sido o
maior soldado da história americana. A seu
respeito, Joseph Gustaitis, na American History Magazine, referiu:
"Um Hércules de 6 pés e meio de altura que
empunhava um sabre de seis pés de comprimento, Peter Francisco foi
provavelmente o soldado mais extraordinário da Guerra da Revolução Americana".
Em sua homenagem existe um parque em New Bedford, Massachusetts, e um monumento em Greensboro, na Carolina do
Norte, e em 2019 foi anunciado um filme baseado na história verdadeira de Pedro
Francisco que vai custar 15 milhões de dólares (13,5 milhões de euros) do
produtor Travis Bowman.
De
referir que o dia 15 de Março é um feriado dedicado a Pedro Francisco em vários
Estados Americanos.
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