terça-feira, 5 de abril de 2022

LISBOA DESDE ANTES DE CRISTO


Os Fenícios,  os Cartagineses,  e os Romanos


Depois de Atenas, Lisboa é a mais antiga das capitais da União Europeia.
A fundação de Roma, por exemplo, ocorreu 4 séculos depois e, a de Madrid, apenas no séc. IX d.C. e, por milhares de anos Lisboa foi o último “porto seguro” da Europa e das Civilizações do Mediterrâneo, constituindo-se na divisa entre o mundo conhecido e um mar imenso que aterrorizava os mais ousados navegantes.


Entre 1.200 a.C. e 1.100 a.C., os fenícios criaram as primeiras feitorias comerciais de carácter, semi-permanente no litoral da Península Ibérica, tornando-se Alis Ubbo (Lisboa), Malaka (Málaga) e Gades (Cádiz) as mais antigas e importantes.
Alis Ubbo significa “Enseada Amena” em fenício, e ao rio Tejo chamavam de Taghi ("boa pescaria”).
Os romanos mudariam o nome para Tagus e, os árabes, para Taghr.
Com 1.007 km de extensão, o Tejo é o maior rio da Península Ibérica, sendo agraciado com o maior estuário da Europa (340 km²), tão amplo que é chamado de “Mar da Palha”.
A principal actividade económica dos fenícios era o mercantilismo marítimo, realizado através de um intenso e permanente intercâmbio com as principais cidades gregas e egípcias, as ilhas de Creta, Chipre, Malta, Córsega, Sicília e Sardenha, e as tribos do litoral da África Mediterrânica e da Península Ibérica.

A Lisboa Cartaginesa


Com o desenvolvimento da cidade de Cartago, também ela uma colónia fenícia, o controle de Lisboa passou para esta cidade. Durante séculos, fenícios e cartagineses desenvolveram Lisboa, transformando o que tinha sido um simples entreposto comercial num importante centro de comércio entre Cartago e as terras dos mares do Norte, como a Grã-Bretanha, onde mantinham uma feitoria na Cornualha, para a exploração do estanho.
Em Lisboa trocavam os seus produtos manufacturados por metais, sal da região de Alcácer, peixe salgado e cavalos, sempre cobiçados e valorizados.
Preferiam comercializar, do que tomar à força os locais onde negociavam.
A vitória dos romanos sobre os cartagineses na “Batalha de Zama” (na actual Tunísia) em Outubro de 202 a.C., determinou o final da II Guerra Púnica, levando os cartagineses a sair da Península Ibérica.
Lisboa foi então incorporada ao Império Romano, iniciando-se uma época na Europa que ficaria conhecida de “Pax Romana”.
Os romanos chegaram a Lisboa em 205 a.C., quando ocuparam o povoado erguido no alto da mais alta das 7 colinas da cidade, aí erigindo uma acrópole. Da estratégica “Felicitas Julia Olisipo”, descrita por Plínio, o Velho, a presença romana é visível até hoje através de inúmeros achados arqueológicos: casas, teatros, fórum, circo, vias, pontes, cemitério, etc.
Em 205 a.C. os romanos mudaram o nome para “citânia” (cidade)
Felicitas Julia, mas os Lusitanos sempre a chamaram de Olisipone (ou Olissipo).
Já no tempo da invasão árabe seu nome mudou para Lishbuna (ou Ushbuna).
Anos mais tarde, com a morte de Viriato em 139 a.C., e a rendição de Táutalo, seu seguidor, Decimus Junius Brutus Gallaicus iniciou a conquista final da Península Ibéria, em que os principais focos de resistência estavam concentrados entre a Serra da Estrela e a Galícia, na Espanha.
Em Lisboa encontrou um reforço inesperado, quando a tribo celtibera dos Galérios que habitava a cidade, se aliou a Roma e mandou alguns milhares de guerreiros juntarem-se às Legiões Romanas no combate contra os Lusitanos e, outros povos Celtiberos como os Arévacos, Bastetanos, Vacceos, Vettones.
Com o domínio destas regiões, Junius Brutus conseguiu que o Senado Romano recompensasse os habitantes de Lisboa com a atribuição da cidadania romana, um raro privilégio nessa época para os povos não italianos.
Com tudo isto, os Lusitanos revoltaram-se e atacaram Lisboa várias vezes, o que fez com que Junius Brutus mandasse construir um cerco de muralhas para proteger a área urbana.
Felicitas Julia, como a cidade passaria a ser chamada pelos romanos, também viria a beneficiar do estatuto de “Municipium” atribuído mais tarde pelo Imperador Júlio César, juntamente com os territórios à sua volta num raio de 50 km, o que lhe garantiu a implantação de diversos equipamentos urbanos (monumentos, termas, teatro, etc.), além de ficar isenta de pagamento de impostos a Roma, ao contrário de quase todos os outros “Castros” e povoados autóctones conquistados pelos romanos.
A sua característica de "Oppidum" (a principal povoação de qualquer área administrativa do Império Romano, e onde os romanos concentravam as suas defesas estratégicas), resultou do tipo de terreno acidentado (7 colinas, tal como Roma), e da protecção natural oferecida pelo estuário do Tejo, além de um braço deste rio que então se desenvolvia a ocidente e penetrava profundamente no território.
O ouro e outros metais preciosos, além dos tesouros das tribos nativas da Lusitânia, foram então pilhados e levados para Roma. As minas de ouro e prata, como “Três minas” e “Jales” (ambas em Trás-os-Montes), que já eram conhecidas e exploradas pelos cartagineses, passaram obviamente a ser exploradas pelos romanos, de modo que toneladas destes metais preciosos deixaram a Península Ibérica.


Nessa época, Lisboa ainda ocupava apenas a actual área central da “Baixa” e a colina do Castelo. Para os romanos, a cidade de Felicitas Julia já era um importante porto e centro de comércio, de modo que assim continuou a ser usada, garantindo a ligação entre as províncias do Norte e do Mediterrâneo. Os seus principais produtos eram o “garum” (um molho de peixe altamente apreciado pela elite romana), sal, vinhos, peixe salgado e os soberbos cavalos lusitanos.


Nota: Compilação e arranjo feito por V. Oliveira



 


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