terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

APANHADOS HISTÓRICOS NOS ARREDORES DO DISTRITO DE LEIRIA


INVASÃO DO MAR
Há cerca de dois milhões e quinhentos mil anos, no Pliocénio, a base da vertente ocidental da Serra dos Candeeiros terá sido atingida pelo mar quando o nível das águas se encontrava cerca de 200 metros do actual (transgressão Pliocénica). Este episódio transgressivo (de avanço do mar sobre o continente) é testemunhado pela acumulação de depósitos com fósseis marinhos situados na vertente a essa altitude. 

PRAIA JURÁSSICA NA SERRA DE AIRE E CANDEEIROS 
Os muros labirínticos característicos das serras de Aire e Candeeiros conduzem-nos a uma pequena pedreira com pouco mais de dois mil metros quadrados. Imersos nos seus afazeres e indiferentes ao tesouro natural que ali se encontra, passam transeuntes nas imediações. Talvez se interroguem sobre esta aparente demência que leva algumas pessoas a colocarem-se de cócoras no solo, protegidas por impermeáveis, em tarefas invulgares. De todo o modo, poucos acreditariam que o mar já ali esteve. Afinal, a geologia é uma ciência que exige capacidade de imaginação.

No solo, são agora visíveis dezenas de fósseis de ouriços, estrelas, lírios-do-mar e serpentes-do-mar, organismos estranhos para o mar de pedra e montanha que marca a paisagem actual da serra. Aqui também houve ondas. Sabemo-lo pelas ripple marks, marcas de correntes marítimas preservadas na rocha, indicadores incontestáveis do ambiente de há 168 a 170 milhões de anos.
O mar inundava então esta área – não o mar como o conhecemos hoje, mas um mar interior de águas pouco profundas, testemunho do processo de separação da Península Ibérica e continente europeu relativamente à América do Norte.
A velha pedreira do Cabeço da Ladeira pareceria desprovida de interesse, não fosse este instantâneo do passado geológico inesperado captado na rocha. Por breves momentos, conseguimos imaginar o local, com as suas águas calmas e temperaturas amenas. No Jurássico Médio, a região, na altura mais próxima do equador, estaria submersa por um braço de mar de pouca profundidade, com razoável luminosidade e sujeita a uma ondulação constante, deixando impressas no fundo carbonatado as marcas de ondulação. 
Em 2003, durante uma visita de rotina dos técnicos do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros à pedreira, no concelho de Porto de Mós, foram descobertos os primeiros fósseis. “A identificação de uma escavadora giratória nas imediações dois anos depois sugeriu uma actividade esporádica de exploração e pior: verificou-se que havia fósseis já marcados com tinta e até indícios da tentativa de remoção de alguns exemplares”.

CANHÃO SUBMARINO DA NAZARÉ
O Canhão submarino da Nazaré inicia-se na plataforma continental ao largo da Nazaré, a cerca de 500 metros da costa, a uma profundidade de 50 metros, mas rapidamente, se aprofunda para o largo. Constitui uma das formas mais notáveis do litoral de Portugal tendo em conta o seu comprimento (227 Km) e a profundidade a que termina (cerca de – 5.000metros). Tem a forma de um profundo vale mas a sua origem não é fluvial, mas sim tectónica.

PALEOLÍTICO SUPERIOR NO VALE DO BRUSCO II – VALE DA GUNHA
Encontraram-se testemunhos muito importantes do Paleolítico Superior no ano de 2009 no Vale Brusco II (Vale da Gunha), onde se descobriram vários materiais em sílex que nos apontam para uma cronologia Solutrense. A jazida arqueológica de ar livre, denominada Vales Brusco II, situa-
se na zona aplanada, a Sul dos afluentes do Ribeiro do Fagundo, em Vale da Gunha, a uma altitude de 159 metros. Este sítio é considerado como um dos mais importantes, em Portugal, para o estudo da transição entre o Gravettence e Solutrense, um período correspondente a aproximadamente a 21.000 A.C. 
No que respeita ao espólio encontrado, ele é caracterizado por uma indústria lítica, com mais de 800 peças, maioritariamente em sílex: Lascas, núcleos e lâminas, tal como pontas de Vale Comprido.

NEOLÍTICO ANTIGO – COMUNIDADES AGRO-PECUÁRIAS NA MACEIRA 
Em 2008 foi descoberta a jazida de Vale Brusco I (Vale da Gunha), onde se descobriram vários fragmentos de cerâmica decorada, que nos apontam para uma cronologia das primeiras comunidades agro-pecuárias na Maceira. O conjunto cerâmico encontrado corresponde a vários recipientes, para os quais foi possível efectuar reconstituições que permitiram definir a caracterização formal das peças, de que se destacam as formas rectas, ovóides, e a presença de asa de rolo e mamilos. 

PICASSINOS
No local próximo à ribeira da Pedrulheira foi encontrado um sítio arqueológico com materiais líticos, em sílex, lascas, núcleos e uma lâmina. O sítio foi definido como habitat e enquadrado mo Paleolítico Superior. 

VALE DA ARROTEIA NO TELHEIRO 
No Vale da Arroteia, no Telheiro, foi encontrado uma jazida de sílex o que indica presença humana na área durante a Pré-História. Estes materiais encontrados poderão enquadrar-se desde o Paleolítico até à Pré- História recente. 

PRÉ-HISTÓRIA NA MACEIRA, EM GERAL
Relativamente à Pré-História dentro do território da Maceira, com cerca de 250 mil anos, temos três fases na ocupação de território. Nas primeiras comunidades de caçadores-recolectores, foram descobertas as primeiras indústrias do Paleolítico Inferior, Cultura Acheulense, na Quinta do Banco. Já para o período dos últimos caçadores-recolectores, foram descobertas várias jazidas onde sobressai o sítio arqueológico de Vale Brusco II (Vale da Gunha) onde se descobriu uma indústria do Paleolítico Superior – cultura datada do final do Gravettense princípio do Solutrense, destacando-se as famosas “pontas do Vale Comprido”, com cerca de 21 mil anos. Por fim, para o período das primeiras comunidades agro-pastoris, foram descobertos materiais cerâmicos que nos apontam uma cronologia do Neolítico Antigo, datando os 6 a 5 mil anos, na estação arqueológica de Vale Brusco I

OS ROMANOS EM MACEIRA

A VILLA DO ARNEIRO
Os primeiros romanos a instalarem-se na freguesia escolheram as margens do ribeiro de Pinces, no sítio do Arneiro, na primeira metade do século I A. C. A recolha de moedas no local dos imperadores Augusto e Tibério, apontam aquela cronologia. Temos um achado de lápides funerárias recolhidas na igreja matriz da Maceira, para além de seis mosaicos identificados no sítio vizinho do Arneiro. Pelos mosaicos encontrados permitem identificar uma Villa, ampla unidade de exploração agrária, com uma rica mansão para os proprietários, para além dos anexos para alfaias, escravos e trabalhadores, estábulos, armazéns, lagares, etc.

VALE BRUSCO I (Vale da Gunha) – Asas de Rolo e Mamilos



Pesquisas:
- Livro “Maceira – Território / História / Património – 500 Anos” – Edição Junta Freguesia da Maceira
Vitor Oliveira

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