Em meados do século XIX, existia no Porto uma figura muito conhecida a quem chamavam Carlotinha.
Diligente e madrugadora, segundo relata o Brigadeiro Nunes da Ponte no seu livro “Recordando o Velho Porto” editado em 1963, a Carlotinha saía todas as manhãs de sua casa bastante cedo. Fazia-se acompanhar de um cesto e de um pequeno banco de três pés, que também lhe servia de mesa.
No cesto transportava, além do almoço, os ingredientes necessários ao duplo mister em que exercia a sua actividade: escrever cartas e cortar calos. Bem díspar aquela dupla função, mas era a que religiosamente executava.
Dirigia-se, para esse fim, à antiga Rua dos Ingleses, actualmente chamada do Infante D. Henrique, e instalava-se na borda de um passeio, aguardando a freguesia.
Sobre a mesa colocava um frasco de tinta, que ela própria fabricava, papel branco e uma pequena lata com areia, a fazer as vezes dos “mata - borrões” ou papéis de chupar.
Então, placidamente, esperava os clientes, constituídos em grande parte por galegos, nostálgicos e saudosos de suas terras, criadas de servir, rapazes, raparigas ou mesmo velhos, e a todos ia escrevendo as cartas que lhe fossem ditadas.
Em missivas amorosas, cartas de namoro, era verdadeiramente exímia, mas o preço, igual para todas, grandes ou pequenas, era de 40 reis (um pataco), por cada uma.
Nos intervalos da escrituração, dedicava-se à profissão de calista “pedicura”, operando os doentes no mesmo local, para o que lançava mão da sua completa aparelhagem cirúrgica: uma navalha e uma tesoura.
Ao lado tinha um pequeno frasco, onde ia deitando os calos extraídos. Se a operação corria bem, limitava-se a colocar papel pardo sobre o local da extracção. Se surgissem complicações, se aparecesse sangue, recorria à prudente aplicação de uma teia de aranha sobre a ferida.
Assim foi a Carlotinha ganhando honestamente a sua vida, no desempenho das duas funções literata e cirurgiã.
Em Porto Antigo FB
Para imaginar...
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