terça-feira, 16 de janeiro de 2024

VIEIRA DE LEIRIA, NO OUTRO LADO DO TEMPO


A Vieira cresceu a partir da Praia para o interior, disseminando-se até Monte Real, separando-se desta povoação no início do século XVI, constituindo uma nova povoação, com 40 moradores.
A febre palustre da região Aveirense, conduziu a uma fuga dos habitantes para Sul, nos finais do século XVIII, trazendo consigo costumes diversos, e, entre os quais, o vestuário das mulheres da Vieira, com o chapéu preto peculiar e os canos, e o mesmo em relação aos barcos típicos, barcos do alto em meia-lua, utilizados na pesca de arrasto.
Na sua nova fixação, aproveitaram a madeira abundante para construírem as habitações características à beira mar, as barracas de madeira sobre estacaria, defendendo-se das vagas da maré alta e, sobretudo das areias que podiam circular, varridas pelas nortadas, sem as soterrarem.
As melhores barracas da Praia, segundo "Oneto Nunes", foram construídas sobre estacaria muito alta, atingindo algumas de 5 metros de altura, e possuindo grandes escadarias exteriores e varandas corridas cobertas pelo prolongamento dos beirais, apoiadas em estacas, com dois pisos.
Estas, as melhores, estavam destinadas a veraneantes porque, as dos pescadores eram mais pequenas e toscas. 
Todas assentavam em esteios, prumos na vertical e linhas na horizontal, e as chaminés eram de tijolo, pintadas de oca colorida ou, cal. 
Por dentro era tudo muito pobre: As paredes tinham tábuas verticais forradas com jornais (colados com uma goma feita de farinha e água) para não deixar entrar o vento. 
Entre os compartimentos havia uns tabiques, que serviam de divisórias que não chegavam ao tecto e por onde frequentemente corriam roedores. 
Não havia camas, eram colocados dois bancos corridos com umas tábuas por cima e uma simples esteira, e quem tinha posses, dormia num colchão de palha de milho.

OS AVIEIROS

Com o alvor do século XX, Vieira de Leiria foi protagonista de uma das mais singulares migrações internas que Portugal conheceu a dos " Avieiros ". 
O agravamento das condições de vida dos pescadores, aos quais a praia da vila nada mais tinha para oferecer para além de um inverno rigoroso e muita fome, criou um grande fluxo migratório em direcção ao Tejo e ao Sado.


Grandes comunidades de pescadores afluíram da Praia da Vieira e foram-se estabelecendo junto das vilas ribeirinhas de ambos-os-rios, encaminhando-se depois para o tráfego comercial fluvial e terrestre.
Durante décadas estas famílias dividiram a sua vida entre o verão na Vieira e o inverno no Tejo, entre a arte xávega da sardinha e a arte varina do sável.
Mas chegou o dia em que deixaram de regressar durante o Verão.
E para sempre ficaram ligados à história do Tejo, os homens da Vieira, 
“Os Avieiros”



Nota:
Composição, arranjo e colocação de imagens / fotografias por V. Oliveira  

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