terça-feira, 19 de julho de 2022

OS VIKINGS NA PÓVOA DE VARZIM


O legado mais fascinante deixado por este povo em Portugal foi, sem dúvida, a Póvoa de Varzim.

Os vikings foram guerreiros marinheiros da Escandinávia que entre o final do século VIII e o século XI pilharam, invadiram e colonizaram as costas da Escandinávia, Europa continental e ilhas Britânicas. Embora sejam conhecidos principalmente como um povo de terror e destruição, também fundaram povoados e praticaram o comércio pacificamente.

As siglas poveiras

Desde há muito que estas siglas fascinam cientistas. As siglas poveiras ou marcas poveiras são uma forma de “proto-escrita primitiva”, tratando-se de um sistema de comunicação visual simples usado na Póvoa de Varzim durante séculos, nas classes piscatórias, e outrora na vasta maioria da população.

Para se escrever usava-se uma navalha e eram escritas sobre madeira, mas também poderiam ser pintadas, por exemplo, em barcos ou em barracas de praia. 


Conhecidas como a "escrita poveira", não formavam um alfabeto, funcionavam como os hieróglifos. Era usada porque muitos pescadores desconheciam o alfabeto latino, tendo as runas assim bastante utilidade. 
Por exemplo, eram usadas pelos vendedores no seu livro de contabilidade, sendo lidas e reconhecidas como reconhecemos um nome escrito em alfabeto latino. Os valores em dinheiro eram simbolizados por rodelas ou riscos designando vinténs e tostões, respectivamente. 
Elas terão entrado em uso na Póvoa de Varzim devido à colonização viking entre os séculos IX e X, permanecido na comunidade devido à protecção cultural por parte da população. 
Se compararmos com as bomärken  (literalmente marcas de casa) dinamarquesas, a semelhança é espectacular:

Herança da marca

As siglas são brasões de famílias hereditárias, transmitidas por herança de pais para filhos, carregados de simbolismo, onde só os herdeiros as podem usar. 

As siglas eram passadas do pai para o filho mais novo, e aos outros filhos eram dadas a mesma sigla mas com traços, chamados de "pique". Assim, o filho mais velho tem um pique, o segundo dois, e por aí em diante, até ao filho mais novo que não teria nenhum pique, herdando assim o mesmo símbolo que o seu pai. 
Na tradição poveira, que ainda perdura, o herdeiro da família é o filho mais novo tal como na antiga Bretanha e Dinamarca. O filho mais novo é o herdeiro dado que é esperado que tome conta dos seus pais quando estes se tornassem idosos.

Siglas e religião

Locais úteis para o estudo das siglas são os templos religiosos localizados não só na cidade e no seu concelho, mas também por todo o noroeste peninsular, em especial no Minho mas também na Galiza (muitos galegos emigraram para a Póvoa). 
Os poveiros, ao longo de gerações, costumavam gravar nas portas das capelas perto de areais ou montes a sua marca como documento de passagem, como se pode verificar, por exemplo, no monte da Santa Trega (Santa Tecla) em Espanha. 
Originalmente a inscrição estava na porta da capela de Santa Trega. Mas, para ser protegida de danificações, foi levada para o Museu do Povo Galego em Santiago de Compostela. 
Mas há muitas mais pelo Minho fora. Desde Santo Tirso, no Mosteiro de São Bento, a Guimarães e a Esposende. 
No concelho poveiro propriamente dito, e fora de igrejas ou capelas, estas siglas podem ainda ser encontradas na calçada portuguesa, em placas toponímicas, em barcos piscatórios, bordados tradicionais, em restaurantes, hotéis ou mesmo nas soleiras de casas.

A vinda dos barcos, 1891



É o barco típico da Póvoa. Ter-se-á desenvolvido a partir do dracar viking, sem a popa e a ré pronunciadas, e com a adição da vela mediterrânica. 
A lancha poveira outrora familiar nas praias da Póvoa e que chegou até a ser usada no início do século XX no Rio de Janeiro desapareceu praticamente na década de 1950, restando apenas uma embarcação. 
Dados antropológicos e culturais indicam a colonização de pescadores nórdicos durante o período de repovoamento da costa. Desde o século XIX, devido às diferenças étnicas visíveis em relação às populações circundantes, levantaram-se origens diferentes para a origem da população: suevos, prussianos, teutões (povo originário da Jutlândia - actual Alemanha e Dinamarca), normandos e até mesmo fenícios. No livro Races of Europe  (1939), os poveiros foram considerados ligeiramente mais loiros do que a média europeia, possuindo grandes rostos de origem desconhecida e queixos robustos. 
Numa pesquisa publicada no jornal O Poveiro (1908), o antropólogo Fonseca Cardoso ressalvou o facto de um elemento antropológico, especialmente o nariz aquilino, ser possivelmente de origem semita-fenícia. Considerou que os poveiros eram o resultado de uma mistura de fenícios, teutões, e, principalmente, normandos. 


Ramalho Ortigão quando escreveu sobre a Póvoa no livro As Praias de Portugal  (1876), afirmou que o que lhe causou mais curiosidade foram os pescadores, uma "raça" especial no litoral português; completamente diferente do tipo mediterrâneo típico de Ovar e Olhão. 
De acordo com ele, o poveiro é do tipo "saxónico": "é ruivo, de olhos claros, ombros largos, peito atlético, pernas e braços hercúleos e as feições arredondadas e duras."






Nota: Compilação e arranjo feito por V. Oliveira 


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