terça-feira, 12 de julho de 2022

EU FUI À ROSETE! (2ª. Parte)


Organização e funcionamento

Para a estrutura trabalhar sobre esferas, praticamente sem problemas ao longo de mais de 40 anos, teve que ter ao leme uma pessoa inteligente, conhecedora das eventuais falhas e reprimir o assédio dos incapazes e invejosos.
A Dona Rosa estava sempre nas horas do expediente e só ela é que recebia o dinheiro e às meninas dava uma ficha colorida que correspondia a um cliente. Todas as noites acertava as contas, no fim do funcionamento.
Quem fazia a ligação para o exterior, quer para compras para a cozinha, lavandaria ou relações públicas era a Alice sua protegida outrora uma “miss” muito assediada, mas depois já não preenchia o padrão de qualidade da casa e só fazia serviços especiais para clientes do mesmo tipo de preferência “misturas “ a 3.
Tudo corria às claras enquanto a Rosete foi viva. Os vizinhos, os paroquianos conheciam o coração de pomba da senhora, mesmo sem a sua presença. A morte da D. Rosa, não findou a actividade. A Alice tomou as rédeas do negócio. As meninas só vinham do Sul, mas deixou que fossem passar o fim-de-semana a casa, falhavam o regresso a horas, mentiam. A qualidade das meninas baixou, sentiu-se a presença dos chulos. A Alice perdeu o controle aos poucos, sobretudo por estar muitas vezes ausente e apresentar vaidade.

Protecção da actividade
De uma maneira geral não havia reclamações, a vizinhança sabia da situação e a clientela queria descrição.
Até ao fim dos anos 80 a jurisdição policial pertencia a GNR, a partir dessa altura foi colocada uma esquadra de PSP no Alto da Maia. O Intendente ainda fez uma rusga á famosa casa, levou para a esquadra o porteiro e os clientes que estavam nos quartos ocupados. O saber, o conhecimento da D. Rosa desfez rapidamente o equívoco e ao outro dia tudo funcionava normalmente.
Quando fechava o expediente de serviço às 2 da manhã, eram soltos 3 Dobermann que disciplinados incutiam respeito no lugar e só ladravam quando depois da hora alguém batesse ao portão.

A vida social da D. Rosa
Desde que tomou conta do negócio no Alto da Maia, cessou a sua própria actividade libertinosa que tinha tido. Tornou-se “madame “.
Não tinha filhos, o único herdeiro seria um sobrinho que morava com a tia, nada fazia e trocava com frequência o carro, sempre da marca BMW. Esse sobrinho namorava uma filha da fadista Beatriz da Conceição, uma conhecida cabeleireira do Porto, com quem a Dona Rosa não simpatizava.
Ao Domingo a Rosinha tirava a barriga de misérias, ia ao fado que tanto gostava, no Porto na casa da Mariquinhas e em Lisboa, no Forcado ou onde estivesse actuar a Beatriz da Conceição ou Maria da Fé, artistas felizmente vivas, naturais da Rua do Bonjardim no Porto.
Quem acompanhava a Dona Rosa era um Juíz Jubilado que morava com a família na Praceta Damião de Gois, numa casa apalaçada. Estava sempre em remodelações feitas a expensas da Rosete. Desconhece-se há quantos anos o Juiz era amante da empresária. Sabe-se apenas que era uma paixão incompreensível.

As minhas últimas observações
Uma empresa, uma organização ou uma actividade, só aguenta tempo útil feliz, se for bem gerida e não cair na rotina. Todos os dias quem dirige tem de estar preparado para desafios novos.
A D. Rosa vingou na vida, porque estipulou regras, sabia ser amiga das suas funcionárias, mas também exigir respeito e muito poucas cedências. A Alice que teve o negócio de mão beijada, cedo perdeu o controlo do dia á dia, foi vítima de proxenetas e vive hoje com grandes dificuldades.

O VÍDEO


Toneta
Junho de 2022


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