terça-feira, 26 de abril de 2022

ALJUBARROTA


Origens da Povoação de Aljubarrota

O povoamento da região remonta ao período neolítico (Carvalhal de Aljubarrota, por exemplo, possui uma estação neolítica).
Sabe-se que próximo de Aljubarrota existiu uma grande cidade Romana a que chamavam Arruncia.
O nome Aljubarrota terá provavelmente origens árabes, povo que durante a sua longa ocupação, terá vivido nesta localidade com o nome de Aljobbe (que significa poço, cisterna ou cova funda) que mais tarde derivou para Aljubarrota.
D. Afonso Henriques, nas doações de 1153 e 1183 chamou a este povoado Aljamarôta.

Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres

Foi o primeiro templo a existir em Aljubarrota e foi construído no século XIII, do qual subsiste actualmente o magnífico portal românico.
É o mais antigo monumento desta localidade e o de maior relevo histórico.
Nesta igreja ouviu missa e rezou o Condestável D. Nuno Álvares Pereira no dia 14 de Agosto de 1385, antes de se dirigir para a frente de batalha, nos campos de S. Jorge.
Ver os sarcófagos dos fundadores desta igreja, Martim Palença e esposa contidos na capela medieval.

Casa dos Carvalhos e o Arq. Eugénio dos Santos

Situada na Rua Direita, edifício do Séc. XVIII, de acordo com a data de 1778 que 
encima uma das portas.
Nesta casa nasceu o Arquitecto Eugénio dos Santos, um dos maiores vultos mundiais da arquitectura e o mais ilustre cidadão de Aljubarrota. Foi o braço direito do Marquês de Pombal na reconstrução de Lisboa, após o terramoto de 1755. De sua autoria foi o projecto da Baixa de Lisboeta e o desenho do Terreiro de Paço e do Arco da Rua Augusta.

Praça do Pelourinho
Ex-libris de Aljubarrota

O Pelourinho, símbolo da justiça, de frute cilíndrico monolítico encimado por uma esfera e um escudo, coberto com um chapéu cardiálgico, talvez aludindo ao Cardeal Rei D. Henrique, que foi abade comanditário em Alcobaça.
A Torre sineira ou Torre do relógio data da época de D. Sebastião, que no Mosteiro de Alcobaça passou largo tempo da sua juventude. A Torre, símbolo do poder civil. está separada da Casa da Câmara (hoje sede das Juntas de Freguesia).


Casa dos Capitães

Situada junto ao Largo de Nª Sª dos Prazeres, é um edifício do século XVIII com janelas ventiladas, cuja reconstrução, constante de uma lápide é de 1779.
É constituída por dois corpos, sendo uma antiga residência dos capitães de milícias e outro formado por antigos cómodos e cavalariças, pois era obrigação do capitão dar guarida e protecção aos viajantes e forasteiros.

Igreja de São Vicente

Situada no Largo do mesmo nome, no extremo nascente da Rua Direita, junto da nacional que liga Alcobaça a Leiria, fica este templo paroquial fundado em 1549, no local onde outrora existiu uma ermida do século XII.
É particularmente interessante a torre sineira do século XVI, encimada por um invulgar coruchéu em forma de "tiara" ou de três coroas sobrepostas, características do distintivo papal.
Padeira de Aljubarrota


Brites de Almeida, forneira de Aljubarrota.

Diz a tradição que esses sete inimigos foram executados com a pá de fornear.
Referem vários autores que Brites de Almeida, ou Beatriz de Almeida, era natural de Faro. Segundo uns, era feia, alta e corpulenta, com força varonil, um verdadeiro virago de olhos muito pequenos, donde lhe veio a alcunha de Pisqueira. Acrescentam outros, ter revelado desde criança um génio irascível, temerário e desordeiro.
Seu pai era estalajadeiro e possuía uma casa de pasto em Faro, onde a moçoila trabalhava, servindo os fregueses e os hóspedes. O filho do alcaide de Faro, que frequentava a estalagem, assediava a rapariga e não encontrando facilidades no seu desígnio, procurou conquistá-la pela força; vendo-se ofendida e desrespeitada, atirou-lhe à cabeça uma bilha de barro, que bastante o feriu.
Brites de Almeida com medo de qualquer perseguição saiu de Faro e fugiu para Lisboa. Tendo-lhe mais tarde morrido o pai, regressou à estalagem de que era a herdeira e arrendou uma quintarola, parece que em Loulé, onde passou a viver.


Por motivo de amor, lutou com um seu pretendente e como era forte e decidida, matou-o nessa briga. Para evitar a prisão fugiu novamente, num barco, mas o vento levou-o para o mar alto onde ficou cativa dum mouro; já se encontravam na embarcação dois portugueses também prisioneiros. O muçulmano, dono do barco, levou-a ao mercado das mulheres em Argel, aí foi vendida a um mouro rico, referindo outros que se destinava ao próprio sultão.
Ao que corre impresso, resistiu a muita violência, defendendo-se com coragem e sorte, tendo passado por grandes lances e sobressaltos.
Brites de Almeida conseguiu libertar-se com mais dois portugueses que estavam ao serviço do mesmo senhor e disfarçada em traje mourisco, embarcou numa lancha, tendo chegado à Ericeira ao fim de quatro dias de tormentosa viagem.
Receando que a reconhecessem e lhe pedissem contas da morte que tinha feito, vestiu-se de homem e começou a fazer serviço de almocreve.
Neste seu novo mester envolveu-se, ou foi envolvida, em várias desordens e tendo sido acusada de outro morticínio, a Justiça tomou conta dela, encarcerando-a em Lisboa.
Por se não ter provado o crime, ou por qualquer outro motivo, foi posta em liberdade. Depois de tantas aventuras, esta heroína popular foi parar a Aljubarrota, onde se ajustou como criada duma padeira.
Brites de Almeida deu notícias à sua ama do paradeiro do marido dela, revelando-lhe ter sido feito também cativo por piratas argelinos. Grata por esta revelação, a ama afeiçoou-se à serva e, quando morreu, Brites de Almeida herdou o forno, passando assim à História com o nome de Padeira de Aljubarrota.
Já antes de ir para esta vila estremenha, Brites de Almeida havia manifestado fervor patriótico e ódio aos castelhanos.
Diz-se que apedrejou, junta com a turba desordenada, o Paço de S. Martinho, em Lisboa, quando do ilícito casamento de D. Fernando; consta ainda que vibrou de indignação contra Leonor Teles ao ter conhecimento do seu adultério e que aplaudiu o Mestre de Avis quando este matou o Conde de Andeiro.
Tinha Brites de Almeida uns quarenta anos quando se deu a Batalha de Aljubarrota; não entrou propriamente nesta batalha, pois foi após a vitória que a tradição assinala o seu patriótico feito. A padeira não estava no campo da refrega; estaria em Aljubarrota e a gloriosa batalha deu-se a onze quilómetros desta povoação.
Relata Eduardo Marrecas Ferreira na sua monografia «Aljubarrota» (1931):
«Durante a batalha de Aljubarrota, Brites de Almeida, por entre o povo da vila, assistia ansiosa ao desenrolar da batalha dum ponto elevado das cercanias, e muito folgou ao ver a derrota dos espanhóis.»
Foi após a vitória que os soldados castelhanos, na sua fuga desordenada, passaram pela povoação de Aljubarrota e neste transe a padeira empunhando a sua pá, matou uns soldados e perseguiu outros. Segundo outros historiadores, os sete castelhanos que ela matou estavam escondidos dentro do seu forno.
A este respeito escreve Pinho Leal:
«Consta que os tais sete castelhanos, vendo tudo perdido, e para escaparem à geral carnificina, achando a casa da Pisqueira abandonada (por a padeira andar entretida a caçar castelhano) se foram esconder dentro do forno. Foi ela ali dar com eles e agarrando na pá, matou-os a todos.


Verifica-se que o povo de Aljubarrota se insurgiu contra os castelhanos e se a padeira foi um mito, não o foi o povo da região. Com realidade ou sem ela o nome de Brites de Almeida, simboliza o ardor patriótico do povo de Aljubarrota, porque não era uma mulher sozinha, por muito destemida que fosse, e mesmo com seis dedos em cada mão, que podia enfrentar tantos fugitivos.
Perto de Alcobaça na ponte de Chiqueda, os castelhanos, na debandada, também foram perseguidos pelo povo.
Diz Fr. Manuel dos Santos que nesta ponte, entre outros fugitivos, foi morto um fidalgo cuja mulher que nesse mesmo local foi presa era cuvilheira (Mulheres encarregadas de limpar e perfumar os vestidos dos reis) ou cubiculária-mor do rei inimigo.
Rezam as crónicas que a pá foi escondida numa das paredes dos Paços do Concelho quando mais tarde os espanhóis nos dominaram e embora insistentemente procurada e requisitada, nunca a descobriram, nem lhes foi entregue, como tanto desejaram, alegando-se sempre não se saber que destino tinha levado.
A pá esteve assim oculta durante os sessenta anos do domínio filipino e só tornou a aparecer à luz do dia depois da gloriosa revolução que aclamou D. João IV, Rei de Portugal.
Ainda hoje em Aljubarrota, se mostra essa pá ao turista que a deseje ver.
O digno professor primário de Aljubarrota, Sr. João António Dias, escreveu no número especial do «Ecos do Alcoa», de 14 de Agosto de 1935 (550º aniversário da Batalha de Aljubarrota), que Mouzinho de Albuquerque - o herói de Chaimite que quando passou por Aljubarrota evocou um passado glorioso, acabando por beijar a pá com enternecido respeito.


ALCOBAÇA

Quando D. Afonso Henriques chegou ao alto da Serra de Albardos (Candeeiros) a caminho de conquistar Santarém, pertença do reino de Al Andaluz, prometeu que caso tomasse esta cidade para o seu reino, doaria a S. Bernardo e à Ordem de Cister todas as terras e os rios que se avistassem daquela serra até ao mar e de Leiria até Óbidos.
Quando regressou da batalha e conquistando Santarém, o rei regressou à Serra de Albardos e lançou uma seta. Onde caísse a seta mandaria erguer a abadia. Quisera o destino que a seta, levada pelo vento, fosse tombar no lugar de Chiqueda, onde se construiu o primeiro mosteiro.

Nota:
Composição, arranjo e colocação de imagens / fotografias por V. Oliveira
Musicordem /

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