terça-feira, 13 de julho de 2021

LUANDA ENQUANTO LUGAR DE MEMORIA - TRANSPORTES


Transporte popular era o comboio cuja linha Luanda - Malange havia sido inaugurada em 1861. Esta linha, nos limites da cidade teve variados ramais: A primeira bitola implantada foi de 1,00 metros. No Esboço da Planta da Cidade de S. Paulo de Luanda edição de 1926 ali se descreve os traçados da linha principal e ramais até á conhecida Estação da Cidade Alta.
Na região de Quipacas foi construída a Estação do Bungo denominada nessa época por Estação Central do Caminho de Ferro, e próximo desta havia o pátio de manobras, armazéns, oficinas e fundição. Segundo o mesmo Esboço da Planta, a Estação do Bungo dava acesso à Av. 31 de Janeiro que terminava mais ou menos na Rua perpendicular Dr. Alexandre Maciel e a partir aqui tínhamos a Rua Direita de Luanda que terminava na Rua Pereira Forjaz.
A Av. 31 de Janeiro deixou de existir passando a ser continuidade da Rua Direita de Luanda. Em frente à Estação do Bungo foi projectado o Largo Eng°. Pedro Folque. A linha principal com ponto de partida na Estação do Bungo seguia paralelamente à Rua Direita entre esta e a encosta, com primeira parada no apeadeiro da Quipaca, depois seguia em frente passando pela ponte da Calçada de Gregório Ferreira, no cruzamento com a Rua de Salvador Correia, atravessava a Rua de Vasco da Gama até ao apeadeiro da Câmara Municipal, um pouco defronte à Igreja Nossa Senhora do Carmo. Este apeadeiro era dotado com plataforma de concreto sem protecção para abrigo do sol ou chuvas. Seguia pelos limites do musseque Ingombota até ao próximo destino que era a Estação da Cidade Alta sita na esquina da Rua do Eng°. C. Serrão com a Rua de Alexandre Peres e muito próxima ao Largo da Maianga. Daqui seguia quase paralelamente à Rua 28 de Maio, passava pelo Rio Seco, limite sul do Maculusso, próximo da actual Igreja da Sagrada Família, e Maternidade Indígena Maria do Carmo Vieira Machado cerca do Aeródromo Emídio de Carvalho. Perto da Maternidade a linha passava entre taludes escavados no terreno com um apeadeiro cujo comboio cruzava a cidade duas vezes por dia em ambos os sentidos no percurso Bungo, Quipacas, Câmara Municipal, Cidade Alta, Maternidade e Aeródromo com ramal voltando para o Bungo.
Um outro ramal atendia um cais perto da Mãe Isabel (actual Porto de Luanda) e deste ramal, outro foi projectado passando em frente à Igreja da Nazareth sempre circundando a Baía, junto aos antigos Mercados Municipais, tendo outro desvio para atender ao cais de cabotagem frente à Alfândega. Antes de entrar no cais a linha seguia em frente direccionada ao sopé da Fortaleza de São Miguel, passava ao lado do cais de embarque, de passageiros para os navios de grande calado, fundeados na Baía, perto da Capitania do Porto, Praça do Governador Pedro Alexandrino (onde mais tarde apareceu o Rialto), Fábrica de Tabacos, Largo Diogo Cão, Fábrica de Sabão e Óleos inflectindo, após contornar o sopé do Morro, em direção às pedreiras do Morro da Samba.
Outro ramal foi estendido até á Ilha do Cabo permitindo que as pessoas fossem para a praia de comboio, aos domingos. Como descrito, perto da Maternidade havia o Aeródromo Emílio de Carvalho e um pouco mais longe ou nem tanto, o Regimento de Infantaria Indígena. Quando alguma figura importante, vindo por via aérea da Metrópole, chegava a Luanda, os alunos das escolas vestidos com batas brancas deslocavam-se para o Aeródromo, alguns de comboio.
No que respeita a máquinas, as primeiras adquiridas foram as do tipo Armstrong, a vapor, sendo depois substituídas por locomotivas de tracção com motores diesel. Os serviços de inspecção, em toda a extensão das vias, eram feitos por uma equipe composta por um encarregado, auxiliado por 2 serventes, que acomodados em cima de uma plataforma sobre rodas apoiadas nos trilhos e munidos de alavanca pivotante, imprimiam através de um sistema engenhoso, movimento à plataforma.
O traçado da linha começou a sofrer alterações devido ao crescimento e modernização da cidade. Assim a 28/05/1951 o ramal foi desactivado deixando de passar pelo centro da cidade em direcção à Maternidade Indígena Maria do Carmo Vieira Machado e aeródromo Emílio de Carvalho. Na mesma data foi inaugurada nova linha entre a estação do Bungo e Musseques e desativado o ramal para a Cidade Alta. Com a construção do Porto de Luanda e mais tarde a construção da Avenida de Paulo Dias de Novaes o ramal que contornava a Baía também foi totalmente removido em 1957 um pouco depois da inauguração do edifício do Banco de Angola.

Emanuel Teixeira (Lunda de Antigamente-FB) 

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