terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

BRACARA AUGUSTA: A MISTERIOSA FONTE DO ÍDOLO



É um lugar cheio de mistérios e de controvérsia!...
A base é uma superfície rochosa de 3 metros de largura onde foi esculpida uma estátua que mede um 1,10 metros.


A cidade de Bracara Augusta foi fundada por volta de 16 a.C., sob o governo de Augusto, implantada numa região antes ocupada por povos nativos. Os romanos, geralmente tolerantes em matéria religiosa, permitiam o culto a divindades locais, além dos deuses romanos.
Possivelmente construída no século I, a Fonte do Ídolo insere-se nesse contexto, sendo um santuário dedicado a um deus local chamado Tongoenabiago, associado aos cursos de água.
A fonte é o único monumento romano de Bracara Augusta a ter sobrevivido relativamente intacto até aos nossos dias, sendo muito importante pelas informações que fornece sobre o culto de deuses indígenas à época romana.
Consiste numa fonte de água com inscrições e figuras esculpidas num afloramento natural de granito. Uma inscrição indica que um indivíduo de nome Célico Fronto, natural de Arcóbriga, mandou fazer o monumento. Perto dessa inscrição encontra-se uma figura vestida com uma toga, que poderia representar o dedicante. Ao lado, sobre a fonte de água, encontra-se outra figura esculpida: um busto, erodido, dentro de um nicho de perfil clássico com uma figura de uma pomba no frontão. Perto dessa figura existe também outra inscrição com o nome do dedicante e o nome da divindade Tongoenabiago, que provavelmente é representada pela figura do nicho.
Foram também descobertos vestígios arquitetónicos que indicam que o santuário pode ter sido parte de um templo.
A Fonte do Ídolo é o único monumento romano que fica no exterior do perímetro da muralha da cidade romana de Bracara Augusta, que sobreviveu intacto até aos dias de hoje.
Este monumento foi talhado numa superfície vertical de um afloramento rochoso, com cerca de 3 metros de altura, e que foi cortado especialmente para este efeito.
Na parte esquerda desta superfície vertical, podemos observar uma estátua que mede cerca de 1,10 metros e que, devido ao seu estado avançado de degradação, é impossível saber-se se representa uma figura masculina ou feminina.
Ainda assim, é perceptível que se trata de uma figura togada, segurando na sua mão um objecto que aparenta ser uma cornucópia.
Inscrições na Fonte do Ídolo:
À esquerda da cabeça desta estátua pode-se observar a seguinte inscrição:
“(CELI)CVS FRONTO / ARCOBRIGENSIS / AMBIMOGIDVS / FECIT”
O que, traduzido para português pode significar “Celico Fronto, de Arcóbriga, Ambimógido fez (este santuário) ”.
Na parte direita desta superfície vertical, podemos visualizar uma edícula, no interior da qual se encontra representado um busto, intencionalmente talhado mais à esquerda de modo a dar espaço para aí se colocar a inscrição:
"CELICVS FECIT”.
E na parte inferior do nicho encontra-se a palavra “FRO(NTO)”. Esta inscrição refere-se ao nome do dedicante, dizendo “Celico Fronto fez”.
Já à esquerda da edícula, é possível ler-se o nome da divindade a quem o santuário foi dedicado: “TONGONABIAGOI”, ou Tongoenabiago.
Depreende-se ainda que a Fonte é dedicada ao deus Tongus, uma divindade fluvial indígena, um Deus dos povos da Bracara Augusta.
Interpretação da Fonte do Ídolo
O valor da Fonte do Ídolo vai além da obra implícita à sua edificação. Os dados históricos que revela são de enorme importância, permitindo confirmar, por exemplo, a existência de uma Mitologia Lusitana que em nada diferia das mitologias romana e grega.
A Fonte do Ídolo tem outra particularidade que a torna enigmática e controversa. As duas figuras representadas na fonte não reúnem consenso, e diversas personalidades têm opiniões divergentes quanto à questão quem é quem. Na lista das dúvidas estão três figuras.
Por um lado, José Leite de Vasconcelos explica que o Deus Tongoenabiago está representado no busto dentro da Edícula e Celico Fronto, o edificante da fonte, representado em alto-relevo.
Por outro lado, Alain Tranoy, defende precisamente o contrário. O Deus Tongoenabiago está representado em alto-relevo e é Celico Fronto que corresponde ao busto dentro da Edícula.
Porém, há quem tenha ainda outra opinião, como António Rodríguez Comenero, que refere que Celico Fronto é apenas mencionado nas inscrições e não está representado nem no busto, nem em alto-relevo. O Deus Tongoenabiago estará retratado no busto dentro da Edícula e a Deusa Nabia em alto-relevo.

Nota: Pesquisas no Portal do Arqueólogo. Texto resumido e composto por V. Oliveira

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