terça-feira, 5 de janeiro de 2021

FERNANDO LAIDLEY



Fernando Laidley, nasceu a 30 de Março de 1918, em Luanda, Angola (faleceu em Lisboa, 2010) e ficou conhecido por ter sido a primeira pessoa a percorrer o continente africano de automóvel. 


Em 25 de Abril de 1955, acompanhado por José Guerra, e Carlos Alberto, respetivamente mecânico e fotógrafo da expedição, (este ultimo haveria de ficar retido na fronteira luso-espanhola devido a problemas com vistos) pilotando ambos um Wolksvagen (o popular "carocha"), que não tinham qualquer preparação especial, partem de Lisboa rumo ao continente africano e entrando por Marrocos, atravessam a Argélia, a Líbia e dirigem-se para o Egipto.



Daqui descem toda a costa oriental africana (Sudão, Quénia, Tanganica (actual Tanzânia), Moçambique e África do Sul) até ao Cabo da Boa Esperança. Depois rumaram para o Sudoeste Africano, Angola, Congo Belga, África Equatorial Francesa, Nigéria, África Ocidental Francesa e, de novo, entram na Europa e param em Lisboa. Uma aventura que havia de durar dez meses e sete días, circundando via terreste o continente africano. 50 mil quilómetros, mais de 20 países e protectorados africanos, enfrentando calor, tempestades, desertos e rios perigosos onde, na sua maioria, seguiram apenas o seu instinto e a orientação de uma pequena bússola.



Cada etapa do percurso era apaixonadamente descrita nas crónicas semanais de Laidley, publicadas simultaneamente no "Diário Popular" de Lisboa e na "Província de Angola" de Luanda. O Diário Popular era distribuído também no Congo. As pessoas seguiam a viagem como se fosse um romance de aventuras: "Laidley chegou ao Cairo", "Fernando Laidley atravessou a fronteira sul de Angola". Na passagem por Luanda, sua terra natal, a recepção teve a polícia a abrir o trânsito e uma fila de cinco quilómetros de carros atrás, quase feriado pois nesse dia fecharam a maior parte dos estabelecimentos.



Precursor de outras ligações de automóvel também elas pioneiras, Laidley volta em 1957 a surpreender. Efectua a viagem entre Luanda/Lourenço Marques/Bissau ligando, via automóvel e pela primeira vez, as três províncias ultramarinas portuguesas situadas na placa terrestre africana.
Depois de ter saído de Luanda e atingido Lourenço Marques, (sul de Moçambique), ruma para o centro desta Província e flecte para a Rodésia do Sul, entrando depois do Congo Belga e passando, de seguida, para a África Equatorial Francesa, percorre o Chade, Camarões, Nigéria (colónia britânica), Níger Francês e, finalmente, atinge a Guiné portuguesa, chegando a Bissau.

No regresso da travessia, surpreende, ao trazer o que viria a ser o seu mais querido animal de estimação: Boma, o leão que se tornou no "companheiro indispensável" do cronista. "Era um amor de animal e todos ficavam loucos com ele", recordava então com nostalgia. 
Laidley havia ficado com o leão, ainda bebé, depois de uma caçada, na Beira, em que a mãe do animal foi abatida. Haveria de dizer "Contribui indirectamente para a sua orfandade, mas, por isso mesmo, constituí-me na obrigação moral de o criar e de lhe prestar toda a assistência", confessou numa crónica publicada no seu livro "Missão em África". 
Foi com "Boma" que Laidley alcançou a última etapa da travessia, da Beira para Bissau, de 18 mil quilómetros, viajando com ele para a metrópole. O animal viveu em sua casa, em Lisboa, durante dois anos. Embora jovem, o leão "já era muito grande", causando grandes sustos a quem por ali passava. Um leão "curioso", que gostava de se pôr à janela, acabando por interná-lo no Jardim Zoológico. 
Posteriormente, em 1960, Fernando Laidley fará outra ligação, via automóvel, partindo de Lisboa e chegando a Goa, depois de ter travessado a Europa (Espanha, França, Itália, Jugoslávia, Grécia) entrado na Turquia e atravessado a Pérsia e o Paquistão. Em Carachi ultimou a viagem de barco, para não ter que entrar na Índia independente. 
Neste interim efectuou múltiplas outras viagens quer pelo continente africano quer pelo Oriente (Macau e Taiwan). Quando rebentou a guerra em Angola (1961) esteve no Norte daquele território a efectuar reportagens de guerra, para as revistas "Século Ilustrado" e "La Semana", de Espanha. 
Em 1990 efectua o seu último e grande périplo. Aos 70 anos de idade efectua o 1º. Raid Trans-Saariano Duplo Planalto do Tassili, num total de 12.000 quilómetros, metade dos quais em pleno deserto saariano. Foi obra. 
Deixou vários livros escritos, que hoje apenas se encontram em alfarrabistas. Destaca-se o "Roteiro Africano", que relata a odisseia da 1ª. volta a África; "Missão em África", que relata a viagem que efectuou acompanhado dum leão entre Luanda/Lourenço Marques/Bissau e "Missão na Ásia"; que se reporta à ligação automóvel de Lisboa a Goa. Sobre a guerra em Angola publicou "Missões de guerra e de paz no norte de Angola" e sobre outras viagens que efectuou escreveu "Reportagem em dois continentes". 
Foi um homem que amou até à exaustão: as mulheres, África e os desertos. Contava por várias as mulheres que amara, por dezenas os países que visitara e por milhares os quilómetros que guiara.

Por:

Emanuel Teixeira em Luanda do antigamente !

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