terça-feira, 30 de janeiro de 2024

O IMPÉRIO HITITA


O poderoso Império Hitita foi rival do Egipto até desaparecer

Um novo estudo pode explicar o porquê…

Um novo estudo sobre árvores com 3.200 anos na Turquia sugere que a misteriosa queda de várias civilizações da Idade do Bronze tardia, entre cerca de 1200 e 1150 a.C., coincidiu com uma grave seca de três anos na Anatólia Central, coração do poderoso Império Hitita e uma das zonas mais afectadas na época.
Naquilo que é comummente conhecido como o “colapso da Idade do Bronze tardia”, o Império Hitita, a civilização dos gregos micénicos e vários poderes mais pequenos e as redes comerciais que os ligavam entre si, desabaram. Isto causou também anarquia, insurreições, guerras civis e rivalidades entre faraós no Egipto, e fome, surtos de doenças e invasões estrangeiras na Assíria e na Babilónia.
Há 200 anos que os académicos se esforçam para explicar o colapso como consequência de erupções vulcânicas ou terramotos; pirataria, migrações ou invasões; fracassos políticos ou económicos; doenças, fome ou alterações climáticas; ou até da disseminação da metalurgia do ferro numa região dominada pelo bronze.
Uma investigação publicada agora na revista Nature revela que alterações climáticas podem ter tido um papel mais importante do que se pensava no colapso da Idade do Bronze tardia.
Ao examinar troncos de árvores enterradas há quase 3000 anos, uma equipa de investigação americana revelou que o coração do Império Hitita, no centro da Anatólia, sofreu uma seca grave em 1198, 1197 e 1196 a.C. — mesmo antes do início do colapso da Idade do Bronze tardia.
A descoberta veio consolidar teorias segundo as quais a mudança para um clima mais seco e frio na zona oriental do Mediterrâneo perturbou a produção de alimentos, resultando em episódios de escassez que exacerbaram os problemas sociais e económicos que já afectavam a região.
Um império ‘desaparece’

O Império Hitita dominou grande parte da Anatólia e governou o território da actual Síria desde cerca de 1650 a.C. até cerca de 1200 a.C. Os hititas são famosos por terem combatido os egípcios pelo controlo de Canaã em 1274 a.C. na batalha de Kadesh, situada  actualmente nos arredores da cidade síria de Homs. 
Contudo, os hititas nunca voltaram a aventurar-se tão a sul e o novo estudo apresenta uma possível razão para isso: aparentemente, o seu império colapsou rapidamente após a seca prolongada que afectou a Anatólia Central entre 1198 a.C. e 1196 a.C., e que terá perturbado a tão essencial produção de cereais.
Isso teria resultado numa falta de alimentos generalizada, e a esses episódios de escassez alimentar ter-se-iam juntado factores como guerras, insurreições sociais ou surtos de doenças, causando o fim do Império Hitita pouco depois de 1200 a.C.
“Não podemos associar estes factores com total certeza, pois não temos relatos de testemunhas oculares”, diz Manning. “Mas parece uma coincidência extraordinária que, algures entre as décadas de 1190 e 1180, todo o império desaparecesse para sempre da história.”

Contos de árvores ancestrais

Para desvendar o que sucedeu ao Império Hitita, a equipa de Manning olhou para o reino da Frígia, que surgiu na mesma zona séculos mais tarde. Alguns estudos sugerem que os frígios eram invasores vindos da actual zona dos Balcãs, mas muitos arqueólogos acham que eles eram descendentes dos hititas.
Manning é um especialista reconhecido na área da dendrocronologia, uma ciência capaz de determinar o ano exacto em que os anéis de crescimento anuais das árvores se formaram, e a sua equipa examinou troncos descobertos debaixo de um gigantesco monte de enterramento junto a Gordion, a capital frígia, situada cerca de 80 quilómetros a sudoeste de Ancara. O monte está associado ao lendário rei Midas — o do “toque de Midas” — e o túmulo real sob ele poderá ser o edifício em madeira mais antigo do que há conhecimento em todo o mundo, diz Manning.
Foi feito com mais de cem troncos de árvores de zimbro abatidas no século VIII d.C. que ficaram preservadas sob o monte. Mas, como os zimbros podem viver durante muito tempo – por vezes mais de mil anos – os investigadores identificaram 18 troncos de árvores que estavam vivas quando a zona ainda era um centro hitita.
A equipa mediu os anéis de crescimento visíveis nos troncos das árvores e examinou os níveis do isótopo de carbono 13 nas suas células, que indicou o nível de humidade atmosférica aquando da sua formação. Ambas as evidências foram incorporadas na criação de uma espécie de “registo de secura” de alta resolução para a região central da Anatólia no período compreendido entre 1500 e 800 a.C.

O fim dos impérios

Antes desta última investigação, os estudos indicavam que o clima da região se tornara mais seco e mais frio ao longo dos 300 anos subsequentes a 1200 a.C. Agora, porém, o novo registo de segura indica datas mais exactas para uma seca grave: 1198, 1197 e 1196 a.C.
Manning sublinha que o Império Hitita poderia ter sobrevivido a uma seca mais curta, como já acontecera no passado, mas acabou por ser derrotado por uma seca que durou demasiado tempo. “Se chefiarmos um governo nessas zonas, estamos à espera de secas ocasionais e fazemos planos a contar com elas”, diz. “Mas o que não esperamos, nem planeamos, são anos seguidos de seca.”
O historiador e arqueólogo Eric Cline, da Universidade George Washington, não participou na última investigação. O seu livro 1177 a.C. - O Ano em que a Civilização Colapsou, publicado em 2014, indica 1177 a.C. como um ano chave, quando tudo se desmoronou, mas afirma que as datas do novo estudo também fazem sentido.
“O colapso da Idade do Bronze tardia e as secas começaram definitivamente antes de 1177 a.C.”, diz Cline. “Esta nova evidência de uma seca entre 1198 e 1196 a.C. adequa-se bem ao cenário geral do colapso”.
O arqueólogo e historiador Lorenzo D’Alfonso do Instituto para o Estudo do Mundo Antigo, da Universidade de Nova Iorque, e da Universidade de Pavia, em Itália, que não participou na investigação, diz que foram descobertas evidências em amostras de gelo da Gronelândia de uma seca global ocorrida antes disso, que atingiu os hititas por volta de 1250 a.C.
Escritos antigos indicam que os hititas implementaram novas técnicas para armazenar água depois disso, mas parecem não ter diminuído a sua produção de cereais – em vez disso, aumentaram-na, afirma. 
Consequentemente, o Império Hitita seria ainda mais gravemente atingido por esta segunda seca grave, ocorrida cerca de 50 anos mais tarde. “Quando essa seca chegou, eles já estavam a produzir em excesso”, diz D’Alfonso.
Um pastor conduz o seu rebanho de ovelhas nas pradarias afectadas pela seca da região central da Turquia. Uma seca de três anos com início em 1198 a.C. poderá ter contribuído para a queda do Império Hitita na região.  Fotografia de Chris Mcgrath.

NOTA: Texto pesquisado através da wikipedia com alterações e fotografias introduzidas por V. Oliveira 

  



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