sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O CASTELO E A CIDADE DE BRAGANÇA

AS MURALHAS DE BRAGANÇA

A  Cidade dentro do Castelo
O CASTELO

E provável que, em povoado tão próximo da fronteira, se tenha construído uma linha defensiva, neste local, ainda no reinado de D. Sancho I (dador do 1º foral em 1187). Em 1377, reinava D. Fernando, a "vila" já estava totalmente cercada. (A fonte d' el rei - "poço do rei" - e os panos de muralha devem datar do séc. XV, reinado de D. Afonso V). D. Dinis, nos fins do séc. XIII, teria mandado construir o primeiro castelo (mais um "castelo novo" dos muitos que foram edificados no seu tempo), afirmando-se, assim, a importância do aglomerado. É sobre este castelo, ou a partir dele, que se constrói o que hoje podemos ver (As obras, iniciadas em 1409, com D. João I, só terminam 40 anos depois).  



IGREIJA SANTA MARIA

Sem que haja provas documentais, a edificação poderá remontar aos primórdios do burgo (da sua primitiva traça nada foi detectado). Nos meados do século XIII sabemo - lo pelas inquirições afonsinas -, a freguesia de Sta. Maria, sediada muito provavelmente na igreja com o mesmo nome, contava-se entre as quatro do aglomerado. As alterações mais significativas ocorreram ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII: Erigido no terceiro quartel de quinhentos, o corpo do monumento apresenta um interior dividido em três naves por colunas poligonais (construídas em tijolo) que sustentam arcos de meio ponto, modelando o espaço desta igreja-salão; a capela-mor (que deve datar de 1580) e a capela dos Figueiredos (dedicada a N. Sra dos Prazeres) mandada executar, em 1585, por Pero de Figueiredo (alcaide-mor de Bragança); do séc. XVII, refira-se o retábulo dedicado a Sto Estevão e a preciosa e expressiva imagem de Sta. Maria Madalena (altar-mor),obra seiscentista do mestre Gregório Fernandez ou Pedro de Mena, das oficinas de Valladolid; do séc. XVIII provêm muitos elementos decorativos e alguns acrescentos arquitectónicos, como o retábulo barroco da capela-mor e o tecto da nave central que apresenta uma pintura com cenografias de belo efeito, numa linguagem que se aproxima da que foi expressa nas igrejas de S. Clara, S. Bento, S. Francisco (capela de N. Sra. da Conceição) e na capela do antigo Paço Episcopal (hoje Museu do Abade de Baçal); a frontaria, de "tipo retabular", é animada por um portal de feição barroco (1690-1715), em que desempenham papel de relevo as colunas pseudo-salomónicas e os enrolamentos dos frontões. Pela mão dos canteiros, a talha dos altares materializou-se em pedra, para solenizar a entrada do espaço santo. 


PORTA DA VILA


A porta principal do aglomerado - Porta da Vila - abre-se a poente e faz parte da barbacã defensiva. Um pouco mais recuada, situada entre dois torreões, fica a Porta de Santo António. No mesmo arruamento, mas no lado oposto (a nascente), o acesso faz-se pela Porta do Sol. No castelo rasga-se ainda a Porta da Traição. A actual malha urbana da "vila", com uma rua principal (a que une as portas do Sol e da Vila), algumas apertadas ruas transversais e alguns largos (mais ou menos espaçosos), dá-nos uma imagem da estrutura urbana resultante das transformações operadas no período que se seguiu à Restauração da Independência. 

É no sentido do eixo principal que surgem os arrabaldes e a cidade cresce pela encosta poente.
DOMUS MUNICIPALIS

Monumento singular (e ainda enigmático) da arquitectura românica civil; exemplar arquitectónico eloquente do período tardo medieval, a juntar à Torre de Menagem. (A designação de "Domus Municipalis" surge, apenas, no ocaso do séc. XIX). A sua edificação data, muito provavelmente, do primeiro terço de quatrocentos (como se comprova por um doc. de 1501), podendo ter coincidido com a do castelo. (A monumental fábrica, que foi, com certeza, erguida para esta edificação, teria deixado na penumbra a construção da "sala de água"). Assim se explicaria, porventura, porque não deixou ecos documentais o "subalterno" edifício. Não se pode recuar no tempo a construção do monumento, por seguir a "gramática românica". Nesta região de arcaísmos, assiste-se a uma longa sobrevivência do românico. 

A "Domus" é constituída por dois corpos (espaços) distintos. As denominações primitivas -"cisterna", "sala de água" (documentadas a partir de 1446) - indicam que os objectivos, que presidiram à edificação, teriam sido, primordialmente, de ordem utilitária. Incorpora uma cisterna de boa fábrica para armazenar águas pluviais e nascentes. O extra-dorso da abóbada de berço, que cobre a cisterna, forma o pavimento lajeado do salão. É este espaço arquitectónico superior, constituído pelo salão fenestrado, que empresta originalidade à edificação brigantina. Se não podemos concluir que esta "parte aérea" tenha sido edificada para servir especificamente como Paços do Concelho (Casa da Câmara), também não podemos afastar a hipótese de o "salão" ter sido utilizado, logo que acabado, para nele se realizarem reuniões dos "homens bons". Sabemos que nos primeiros anos de quinhentos se dá a "municipalização (edilização) efectiva da Domus" (como o demonstra um doc. de 1503). 
 TORRE DE MENAGEM


Na "vila", destaca-se a Torre de Menagem (construção iniciada por D.João I) "...com comandamento sobre o resto das muralhas...". Construída, como é habitual, no ponto mais defensável -" mais larga e robusta que as maiores torres góticas do Sul" - é, porventura, " a mais elegante e bela do país". Sustenta, nos seus ângulos, vigias de bom recorte; no seu interior, uma cisterna, que serve uma função residencial atestada, também, por aberturas de amplos vãos e de esmerado lavor (destaque-se a janela ogival geminada da fachada sul). A cintura defensiva que a protege é constituída por panos de muros e cubelos. 

Hoje, alberga o 
Museu Militar. Deve o visitante subir ao terraço ameado, para contemplar belas paisagens (Serras de Nogueira, Montesinho, Coroa e, para norte, terras leonesas e cumes da Sanábria). 



MUSEU MILITAR

A sua fundação remonta a 1929, (na prevalência do Regimento de Infantaria 10 aqui aquartelado e, posteriormente, o Batalhão de Caçadores 3). Sob o pretexto da recuperação do Castelo e a consequente extinção do Batalhão também o Museu Militar partiu, regressando em 1983 com o acervo original enriquecido por peças de armamento ligeiro desde o séc. XII até à 1ª Guerra Mundial. 

O Museu Militar de Bragança ocupa todo o interior da Torre impondo-se como espaço memória das vivências militares da cidade, porquanto a maioria das peças originais foram doadas pelos habitantes, participantes nas Campanhas de África e 1ª Guerra Mundial.


PELOURINHO


Símbolo do poder concelhio. Ergue-se no largo de S. Tiago, onde existiu uma igreja com este nome. Implantava-se junto à "Domus Municipalis", edifício com que estaria em consonância, dada a sua relação com o poder municipal. Poderia ter sido nestas "andanças" que foi encastrado numa porca. O monumento é, assim, constituído por duas peças distintas, dois elementos bem separados no tempo: o pelourinho propriamente dito (coluna de fuste liso e coroamento), um exemplar quinhentista (?) do "tipo bragançano" (na classificação proposta por Luís Chaves) e uma figura zoomórfica protohistórica, um berrão (popularmente designado por "porca da vila"). Deste casamento resultou um conjunto anacrónico, mas original e de grande valor simbólico



Fonte: Bragança Cidade (Publicação da CMB)
Rui Neves

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