O
Homem, o Escritor, o Tempo, a Terra e a Democracia!...
Adolfo
Rocha – Infância e Juventude – 1907 a 1933
“Ter
um destino é não caber no berço onde o corpo nasceu, é transportar as
fronteiras uma a uma e morrer sem nenhuma.”
Miguel
Torga, Pseudónimo de Adolfo Correia Rocha, nascido em S. Martinho de Anta em
1907 e falecido em Coimbra em 1995.
“Nasci
como um cabrito ou como um pé de milho.”
“O
destino plantou-me aqui e arrancou-me daqui. E nunca mais as raízes me
seguraram bem em nenhuma terra.”
A
GRANDE AVENTURA JUVENIL EM 1919
Foi
então enviado, aos doze anos, para o Brasil (Minas Gerais), a fim de trabalhar
numa fazenda que pertencia a um tio, fazenda de Santa Cruz.
Carregar
o moinho, mungir as vacas, tratar dos porcos, ir buscar os cavalos da cocheira
ao pasto, limpá-los e arreá-los, rachar lenha, varrer o pátio e atender a
freguesia que vinha comprar fumo, cachaça, carne seca, feijão, ou trocar grão
por fuba; ir buscar o correio à povoação; fazer a escrita da fazenda, verificar
à noite se as portas e as janelas estavam bem fechadas.
Quatro
anos decorridos o tio matriculou-o no Ginásio de Leopoldina.
Em
1925, na convicção de que ele havia de vir a ser “doutor em Coimbra”, o tio
propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço.
Um
dos seus títulos de glória é ter passado a adolescência no Brasil.
“O
Brasil amei-o eu sempre, foi o meu segundo berço, sinto-o na memória, trago-o
no pensamento.”
De
regresso a Portugal, fez em dois anos, os cinco do primeiro e segundo ciclo do
curso liceal de sete.
No
Liceu José Falcão completou o terceiro ciclo num só ano, ficando apto a cursar
uma Universidade.
A caneta que escreve e a que prescreve revezam-se harmoniosamente na mesma mão.
Golpe
militar de 1926
A
intervenção literária, já então a entendia Adolfo Rocha, como o único modo de
combate. “Numa pátria que é o cemitério da própria língua.”
Conclui
o curso universitário em 1933. “Na hora em que esperava merecer da vida a
alegria íntima do triunfo, sinto o medo do avesso quiçá o terror fundo que não
diz donde vem nem para onde vai”, anotou no dia da formatura.
A
VIDA OBJECTIVA, A ÚNICA QUE VALE A PENA
Casa
com Andrée Crabbé em 1940, estudante de nacionalidade belga – aluna de Estudos
Portugueses ministrados por Vitorino Nemésio em Bruxelas – que viera a Portugal
para frequentar um curso de férias na Universidade de Coimbra.
“Vou tentar ser bom marido, cumpridor – mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso.”
ADOLFO
CORREIA ROCHA, AOS 27 ANOS EM 1934, AUTO DEFINE-SE PELO PSEUDÓNIMO QUE CRIOU
MIGUEL
E TORGA
MIGUEL
– Homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e
Miguel de Unamuno.
TORGA
– Designação nortenha da urze, planta brava da montanha, que deita raízes
fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho.
Jorge
Amado escreveu: “Se existe alguém que escreve em português e merece o Nobel é
Miguel Torga.”
Torga,
escreve: “Hoje sei apenas gostar duma nesga de terra debruada de mar.”
Sobre
a descolonização escreveria: “Fomos descobrir o mundo em caravelas e
regressámos dele em traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros
e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma
grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.”
“O
Homem é, por desgraça, uma solidão: Nascemos sós, vivemos sós e morremos sós.”
Em 17 de Janeiro de 1995 morrem o médico Adolfo Rocha e o poeta Miguel Torga. Ambos repousam, sob uma única laje, em campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta.
A
MORTE
E
o Poeta morreu.
A
sombra do cipreste pôde enfim
Abraçar
o cipreste.
O
torrão
Caiu
desfeito ao chão
Da
aventura celeste.
Nenhum
tormento mais, nenhuma imagem
(No
caixão, ninguém pode
Fantasiar)
Pronto
para a viagem
De
acabar.
Só
no ouvido dos versos,
Onde
a seiva não corre,
Uma
rima perdura
A
dizer com brandura
Que
um Poeta não morre.
Notas:
Diaporama de Luís Aguilar e Vitália Rodrigues. Concebido a partir do livro
Fotobiografias de Clara Rocha.
Compilação
e arranjo feito por V. Oliveira
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