terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

ALDEIA COMUNITÁRIA DE AIVADOS, ALENTEJO.


A aldeia de Aivados, com 150 habitantes, situada a 13 quilómetros da sede do concelho, Castro Verde, é única no Baixo Alentejo: é uma aldeia comunitária, desde o século XVI, possuindo, além de um "governo", com o seu próprio regulamento interno, 400 hectares, um rebanho comunitário, vários prédios urbanos e alfaias agrícolas.

Quem é natural ou reside há mais de um ano na pequena comunidade dos Aivados não precisa de se preocupar em arranjar dinheiro para comprar um terreno para construir casa própria: por "lei", em efectividade desde, pelo menos 1562, tem direito a esse terreno gratuitamente, só o pagando à comunidade se, entretanto, decidir vender a casa. Mais: como cidadão de pleno direito da comunidade, tem também direito a uma parcela de terreno nos "ferrageais" junto à aldeia, onde poderá fazer uma horta, criar galinhas ou outros animais, desde que não criem problemas ambientais aos restantes habitantes. Mais ainda: na véspera de Natal, para reforçar a ceia e poder comprar mais uma ou outra peça de roupa para suportar o Inverno, receberá uma verba em dinheiro, uma percentagem dos lucros obtidos pela comunidade na exploração dos terrenos mais desviados da aldeia, a que chamam as "folhas".

Diz a tradição oral que os Aivados sempre foram "governados" por uma comissão, eleita por todo o povo, composta por vários cidadãos. É de 31 de Janeiro de 1934 a acta escrita mais antiga que fala no assunto, referindo que essa comissão era constituída por um presidente, um secretário, um tesoureiro e três vogais. Essa comissão - que, refira-se, sempre funcionou, mesmo no tempo do fascismo - tinha plenos poderes para resolver todos os problemas da comunidade. Sem capacidade jurídica que transcendesse as "fronteiras" do território, a comissão foi, em termos práticos, o executivo que levava à prática as deliberações tomadas em assembleia geral pelo povo da aldeia. Entre essas deliberações contaram-se, por exemplo, a dado momento da história, "atribuir ao forasteiro o estatuto de cidadão, ao serem-lhe concedidos todos os direitos e deveres que usufruíam os naturais".

Por motivos legais, em 1989, foi necessário criar uma entidade com "corpo jurídico" que acabaria por substituir a "comissão". Essa entidade, a Associação do Povo de Aivados, que em termos práticos substituiu a "comissão", possui uma direcção, um conselho fiscal e uma assembleia geral.

O presidente da direcção, António Ventura, explica-nos que, "embora a Associação possua estatutos, para nós, o que tem mais importância é o nosso regulamento interno, que dantes era apenas oral e que agora, aos poucos, começa a ser redigido". No entanto, por força da tradição, os moradores continuam a tratar os responsáveis da associação por "comissão".

E é esta "associação/comissão" que continua a governar, a gerir os interesses da comunidade, sendo periodicamente todos os assuntos discutidos em assembleia geral de moradores. Hoje, por motivos legais e burocráticos, colocam-se novas tarefas aos responsáveis da aldeia, tanto mais que, nos últimos anos, graças a uma boa gestão, o património da comunidade tem crescido, existem constantes entradas e saídas de dinheiro, há contas bancárias, enfim, é preciso uma contabilidade organizada, muito diferente daquela que existia há algumas décadas. Por exemplo, presentemente, os terrenos conhecidos como "folhas", que até há poucos anos eram explorados individualmente pelos moradores interessados, passaram a ser explorados directamente pela Associação do Povo de Aivados, que possui vários tractores e alfaias agrícolas. Os pastos desses terrenos já não são vendidos a terceiros (agricultores vizinhos) mas sim aproveitados para o rebanho colectivo, que possui mais de 500 cabeças de ovinos. Ou seja, a Associação, como pessoa colectiva, passou a funcionar como uma empresa agrícola. E não só porque, além das vertentes agrícola e pecuária, a Associação tem a seu cargo outras tarefas, tais como, por exemplo, renovar um contrato de arrendamento com uma empresa que explora uma pedreira dentro dos terrenos comunitários.

https://alentejoturismo.pt/pt-pt/aivados-aldeia-comunitaria/



Sem comentários:

Enviar um comentário