No seio de uma família destroçada com a morte de sua mãe ainda jovem, vivem a monte três crianças de tenra idade. O pai, para sustento do agregado, trabalha de sol a sol sem lhes poder dar a atenção devida. Daí, os meninos se chegarem a mim e questionarem sobre a penosa vida que levam!
Pedrito, de sete anos de idade, comenta tristemente…
“Na minha escola, todos me chamam de anão. Sou pequenino, sou enfezado, que posso fazer?!”
Pedrito, tu, um dia crescerás, mas mesmo que continues a ser mais pequeno que o normal das pessoas, nunca te sintas inferior. Olha…há muitos e muitos anos atrás existiu um pastorzinho chamado David que vivia em Belém, terra sagrada. Era uma criatura pequena como tu, simpática, bondosa e crente em Deus. O rei do seu país vivia amargurado com a guerra contra um povo, os Filisteus, povo inimigo e comandado por um gigante mau – o Golias. Só o seu nome feio metia medo!
David partiu um dia para a guerra sem receio de enfrentar o tal gigante. Pequeno como ele era, sentia-se forte e temerário. Levou consigo o seu cajado, cinco pedras e uma funda. Adiantou-se até ao campo inimigo e disse para o gigante: “Tu vens contra mim com a tua espada, com a lança e com o escudo, mas eu irei contra ti em nome de Deus”.
Matou o Golias, venceu a batalha e, foi proclamado rei – o grande Rei David.
O pequenino, o anão, o enfezado, venceu aquele que todos receavam. Venceu o gigante!
Pedro, o defeito não se encontra na nossa pequenez física. Ao longo da tua vida terás sempre que afirmar a tua atitude, angariares forças suficientes, teres Fé e Esperança.
Sermos…como que um rio que procura o mar, vencendo todas as barreiras.
Enfim, encaminharmos a nossa Alma para uma felicidade só nossa!
Pedrito, pensativo, exclama: “Eu serei forte no corpo e na mente para me igualar ao David. Ajudarei o meu pai…que tanto trabalha, e os meus irmãos, também!”.
Mais velho três anos, o irmão João escuta atentamente o Pedrito e os conselhos que eu lhe ia transmitindo. No final da nossa conversa, ele, ansioso, exprime uma mágoa idêntica, dor que lhe ia roendo o coração desde tempos!...Desabafa assim para comigo:
“Há muito que eu sentia o meu irmão Pedrito tristonho e, só agora o vejo com ar feliz e resoluto. Foi mais corajoso do que eu em falar do seu grande mal pois, eu também sofro com um problema menos comum”.
E o que é que te atormenta assim tanto? Qual o teu ressentimento?
“Este ano passarei para outra escola. Terei novos colegas, outros professores, um mundo por desbravar. Nesta última já me sentia familiar com os comentários negativos, com o chamamento de canhoto!”.
Mas…ó João, essa maneira de ser esquerdino até é salutar! Deverias ter orgulho e demarcares-te nessa diferença. Certo, tens inconvenientes na vida prática, mas o que vale mais? Ser um esquerdino inteligente ou, um desajeitado destro?
Por acaso já ouviste falar de pessoas destacadas por esse mundo fora? Por exemplo: Leonardo Da Vinci, grande pintor; Barack Obama, ex-presidente da América; Messi, um dos maiores futebolistas; Albert Einstein, famoso cientista; Bill Gates, dono da maior riqueza do mundo ou, Paul McCartney, actor conhecido da minha geração?...Todos “canhotos”!...
João, o cérebro dos “canhotos” funciona de um modo especial. Os esquerdinos respondem melhor e de forma mais rápida aos estímulos e, 15% dos que têm o teu “defeito” são dos mais ricos do mundo!...
Desfaz a tua tristeza, o teu mal-estar, contenta-te com esse teu jeito de escrever à “canhota” e pensa que serás sempre superior àqueles que te rodeiam. Fala-lhes nestas personagens que fizeram história e que foram canhotos como tu. Fala-lhes do Ronaldo, também ele canhoto, também ele o melhor jogador do universo!
Verás, então, como te olharão futuramente de maneira a quererem ser teus amigos e mais próximos.
Por último, a Amélia, retraída como menina, acanha-se de falar de si. E, eu, curioso pergunto-lhe: E, tu, Amélia…tu que já fizeste 13 anos nunca te sentiste com complexo algum?
“Senti, senti e sinto um que me dói e me corrompe. Acho-me feia, mal vestida, descalça por vezes, triste e sem mãe. Quem me quererá um dia?”
Tu não és feia. Tu sentes-te feia, o que é diferente!
Tu, por dentro, és bonita e perfeita. Tens uma beleza interior rica em virtudes e, essas virtudes durarão até morreres. Herdaste-as dos teus pais, e serão lembranças enraizadas da tua mãe. A beleza exterior modela-se, retoca-se e esvai-se com a idade. Falece muito antes do último sopro da nossa vida. É secundária, e geralmente só cativa, só atrai os homens de carácter fragilizado.
Porventura já ouviste falar duma Teresa de Calcutá?! Um Ser pequenino, despercebida no mundo pela sua aparência física, mas ricamente conhecida pela sua extrema bondade?!
Cresce e vê-te bonita. Quanto a mim, prometo-te comprar um vestido para te tornares numa princesa. Aguarda até fazeres os 14…no próximo mês, no dia em que a tua mãe faleceu. Coincidências!
Amélia, em breve entenderás o que Fernando Pessoa escreveu a propósito do corpo e da mente, da beleza exterior e interior…Disse ele na sua prosa poética: “A beleza de um corpo nu só a sente as raças vestidas. O pudor vale sobretudo para a sensibilidade como o obstáculo para a energia”.
Vítor Adelino Matos de Oliveira
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