quarta-feira, 26 de setembro de 2018

LÍNGUA COKWE



LÍNGUA COKWE

Outras designações:

Nos tempos coloniais foram adoptadas variantes, algumas aportuguesadas, outras atribuídas aos povos chokwes, pelo que os mesmos podem ser referidos em muita literatura como Quiocos, Chocué, Ciokwe, Djok, Shioko, Tchocué, Tshokwe, Tchokwe e Tschiokloe. 
A comunidade étnica Cokwe cobre uma parte significativa nas regiões do Leste de Angola, desde o ângulo superior direito até à fronteira Sul, depois de atravessar o rio Kubangu. 

Com um número superior a 357.693 falantes, é formada pelas etnias Lunda Lwa-Cinde e Lunda Ndembu. A área de difusão da língua Cokwe situa-se a Nordeste e Leste, abrangendo a totalidade das províncias das Lunda Norte e Sul, a província do Muxiku, com um prolongamento profundo para a província do Kwandu Kubangu. 
O Cokwe é considerado como uma língua transnacional pelo facto da sua área de difusão se estender para além das fronteiras nacionais. Também é falada na República Democrática do Congo e na República da Zâmbia e, esta situação, deve-se a factos históricos. 
Referia José Redinha, em ‘’Etnias e culturas’’, que as línguas actualmente faladas em Angola são, pela ordem de antiguidade, a bosquímana ou bochimane, a língua banta e a língua portuguesa. 
De todas elas, apenas a língua portuguesa possui forma escrita, o que muito influiu para a divulgação do português nas populações angolanas. 
Em Angola, existem também as chamadas linguagens tamboriladas que, mormente em épocas passadas, eram transmitidas por meio de tambores, de que o modelo mondo, ainda existente, constitui instrumento especializado para o efeito. 
Este instrumento encontra-se muito divulgado, testemunhando bem, na sua dispersão actual, a intensa aplicação que deve ter tido em épocas passadas. 
Henrique de Carvalho, referindo-se ao uso do mondo entre os Lundas, deixou registada, entre outras, esta passagem: ‘‘Para chamar toda a gente às armas (assisti a esta convocação no acampamento de Xa Madiamba), dizia o mondo: acuarunda ó chipata congolo, ucuete uta, ni cabuita mulimo, munguletanhi, munguletanhi – Povo da Lunda, os guerreiros, os que têm espingardas e frechas, venham todos com ellas”. 
Na região da Lunda e no Cuango, assistimos ao emprego do mondo entre os Lundas, Quiocos, Xinges e Bangalas. Os tocadores de mondo necessitam de bastante experiência. 
Também, nem todos são capazes de ouvir convenientemente as mensagens. Interpretam-nas movimentando os lábios. No entanto, entre os Bangalas, observa-se a emissão de mensagens longas com pronta resposta. 
O alcance depende da topografia da região e das correntes aéreas, mas admitem os africanos que é normal transmitirem para 10 quilómetros, podendo, em condições favoráveis alcançar-se maior distância. 
Há, sem dúvida, uma técnica tipicamente africana não fácil de interpretar, no uso de transmissões acústicas. O etnomusicólogo Kubik tratando as estruturas e escalas musicais africanas, dá uma explicação por essa via, nos termos seguintes: 
‘’Hoje em dia podemos ter como certo que uma série de tribos africanas afinam os seus instrumentos de acordo com sílabas da língua ou com fórmulas verbais. As fórmulas verbais mnemónicas e onomatopaicas têm grande relevância nas culturas sem escrita, como meio de preservar a tradição, constituindo um importante instrumento de ensino. As crianças aprendem a tocar tambor e outros instrumentos por meio de fórmulas verbais e silábicas. O ducto melódico de passagens de tambor representa palavras e frases, imitando as alturas dos sons, os glissandi, a claridade das vogais e outros caracteres linguísticos rítmicos e dinâmicos. É neste princípio que se baseiam os tambores falantes africanos’’. 
Entre os Quiocos encontram-se referências a uma espécie de linguagem assobiada, por meio de apitos, usada pelos caçadores, e nas antigas acções de guerra. No Cassai, há o emprego local do designado ‘’gesto falante’’, linguagem gesticulada ou mímica, para a comunicação entre as margens largas do curso, pelo menos como auxiliar de linguagem propriamente dita. 
Ainda quanto à linguagem assobiada, usavam os antigos Lundas uns apitos, com os quais afirmavam transmitir, com segurança, diversas mensagens. O processo consistia em emitir certas onomatopeias musicais muito conhecidas, ou imitar o canto de algumas aves cujo código é dado pelas canções do folclore. 
O povo Cokwe é uma etnia bantu e numa perspectiva etnológica, destaca-se pela sua tradição artística, particularmente pelas suas esculturas e máscaras. 
Historicamente, estão envolvidos no colapso do Reino Lunda, e no Nordeste de Angola e continuam a viver numa estreita coabitação com a etnia Lunda. A sua migração para o Sul, onde muitas vezes se radicaram por grupos em espaços não utilizados por outras etnias, continuou até meados do século 20. A coesão entre eles muito deve a uma rede de autoridades tradicionais que inclui o seu habitat nos países vizinhos. Em termos económicos, a sua base continua a ser a pequena agricultura, exclusivamente para efeitos de subsistência, bem como a caça. Até à data mostram-se pouco abertos ao cristianismo, salvo quando passam a fixar-se em contextos urbanos. 

Os Cokwe envolveram-se pouco na guerra anti-colonial e na Guerra Civil Angolana. Depois da independência de Angola, foram a única etnia que, nas duas primeiras eleições parlamentares, conseguiu eleger deputados de um pequeno partido, o PRS (Partido de Renovação Social) que representa os seus interesses específicos.




Até breve


Sem comentários:

Enviar um comentário