Geografia
Moxico está centrado entre os paralelos 10° 16´ de latitude sul e 18° 24´de LongitudeEste. Com uma superfície de 233.023 km², Moxico é a maior província de Angola, ocupa cerca de 16.03% de alargamento do território nacional. Limita a nordeste com a República Democrática do congo, a leste com a Zâmbia. Une-se a norte com a província da Lunda Sul, a sul com o Kuando Kubango e a oeste com o Bié.
A sede da província é a cidade do Lwena, antiga Vila Luso. A cidade está localizada no planalto entre os rios Lwena e Lumege. Primeiramente teve o nome de Vila Luso e em Maio de 1956 foi elevada à categoria de cidade. Dista 1.314 Km de Luanda, por estrada e 1.036 Km do litoral oceânico, pelo Caminho de Ferro de Benguela.
Quanto ao Relevo, Hidrografia e Clima, Moxico é um hinterland que se enquadra no vasto planalto africano, de relevo homogéneo, na sua generalidade. A província situa-se numa zona com altitudes que oscilam entre 1200 e 1400 m (excepto no maciço de Alto Zambeze onde chega aos 1800m, sendo a zona mais elevada). É uma região drenada por três bacias hidrográficas: a do Zambeze no centro leste, a de Kubango no sul e a do Zaire no Norte. Importantes cursos de água atravessam a província em toda a sua extensão: Zambeze, Luena, Lungué-Bungo, Cassai, Chicaluege, Loio, Luanguinga e Kuango. As Bacias hidrográficas constituem um manancial ímpar de recursos hídricos. Existem na província Anharas, vulgarmente designadas por chanas do Leste, inundadas anualmente na estação chuvosa.
Clima é tropical de altitude, com uma temperatura média anual de 21°C (uma máxima de 35°C e uma minima de 2,7°C) e 1145 mm de precipitação anual, distribuída essencialmente de Dezembro a Março.
Fauna e Flora
A fauna e a flora da região são ricas e variadas. A fauna é abundante, sobretudo na parte norte, onde o Parque Nacional da Cameia, com uma área de 1.000.000 hectares, tem uma reserva de animais.
Aí, encontramos o Elefante, a Palanca, o Leão, o Leopardo, o Chacal, a Onça, o Antílope, o Hipopótamo, o raro Macaco azul, etc. Na parte sul, existe uma reserva de animais, na zona de Bundas. Nesta região do Moxico, encontramos dois tipos essenciais de formações vegetais: a floresta aberta (mata Panda) e a floresta densa seca (savana com arbustos e árvores).
População
Moxico é composto por uma diversidade populacional, pertencente na sua maioria ao grupo étnico Cokwe (Ciokos ou Quiocos). Os diferentes grupos étnicos são: Balutxazes (Luchazes ou Luxazes), Mbundas e Ambundos, pertencentes ao grupo Bantu e falando línguas diferentes.
Um território extenso, não muito povoado mas com uma diversidade de povos que vieram habitá-lo em épocas mais remotas ou mais próximas, dada a riqueza em caça, em pesca, em zonas para agricultura. A história e as tradições orais registam lutas entre eles e entre poderes políticos mais centralizados (como os ligados ao império Lunda) ou mais dispersos (os Luchazes e os Mbunda, por exemplo, incluídos na genérica designação de “Nganguela”), mesmo antes de o tráfico de escravos (aqui introduzido por vizinhos mais próximos do Atlântico) vir agravar conflitos. A provincia do Moxico é vasta, com diversos povos, línguas e culturas. Se os Cokwes e os Luvale (Lwena) se tornaram os mais estudados no período colonial, não significa que os restantes não tenham uma história igualmente interessante e cujo estudo é importante fazer.
COKWE
Embora actualmente se fale de Mwatxissengue como “chefe dos COKWE”, outros chefes foram igualmente importantes no passado. Os viajantes europeus dos fins do século XIX identificavam como igualmente importantes Ndumbo wa Tembwe (Dumbo-a-Tembo, principal chefe Cokwe na época, no Ciboko) Mwa Muxiku (Mussaico ou Kinyama, em terras onde se instalou a colónia que deu origem à cidade do Luena) e Mwa Cissengue wa Tembwe (conhecido dos viajantes europeus como Quissengue) que na tradição é visto como “sobrinho” de Ndumbo, e que acabou por fixar-se no Itengo, próximo de Saurimo, hoje Lunda-Sul.
Os Cokwe têm remota origem em terras do que veio a ser o centro do império Lunda, no actual Congo-Kinshassa, sendo formados pelos grupos que partiram, para não se sujeitarem à centralização do poder Lunda. Segundo as Tradições, por não aceitarem o poder de Tximbinda yLunga, o caçador Luba com que Lueji casará e a quem cedia o poder, para descontentamento dos irmãos Kinguri e Kinyama que, com outros chefes, se dirigiram então para o ocidente. Destas migrações são originários muitos povos (as elites governantes dos vários “reinos”) não só do leste de Angola, mas também de Kassanje e alguns do planalto central.
Vivendo nas matas do Ciboko, a expansão dos Cokwe no século XIX esteve ligada ao florescimento do comércio do marfim, dado o aumento da procura do marfim nos mercados europeus e americanos. A comercialização em larga escala das armas de fogo no interior da África foi a sentença de morte que se bateu sobre milhares e milhares de elefantes. Também em Angola isso aconteceu. Os que os caçavam partiam para lugares cada vez mais distantes a buscá-los, e assim os Cokwe caçadores especializados, artesãos e ferreiros exímios, a partir dos anos 1830-1840 dedicaram-se activamente à caça ao elefante; apenas despendiam do exterior para a pólvora, pois rapidamente aprenderam a reparar e produzir as armas de fogo (com excepção do cano) que inicialmente importavam do litoral, pela mão dos Ovimbundu, entre outros. Eram armas de qualidade inferior, espingardas e pederneira, mas muito eficientes quando comparadas com as armas africanas tradicionais. Facilmente convertidas em armas de guerra se necessário. E os cokwe acabaram por desafiar o poder dos Lundas, aproveitando as crises do império. Quando o comércio do marfim cedeu o lugar ao da borracha ,também nele os Cokwe se envolveram e consolidaram a sua expansão para terras do actual Kuando Kubango. Mas a organização política dos Cokwe continuou a ser bastante descentralizada e a ocupação europeia fragmentou ainda mais a sua estrutura político-social. No entanto, as misturas entre Lundas e Cokwe foram frequentes e explicam que no período colonial tenham acabado por ser “classificados” num grupo “Lunda-Cokwe”. Porém, se politicamente eram diferentes dos Lunda, também linguisticamente é visível a distância entre Cokwe e Lunda e a proximidade Cokwe com outros povos, nomeadamente: Minungu, Xinje, Lwimbi, Lwena (Luvale) Ambwela, Mbunda e Luchazes.
LUVALE
As narrativas dos Luvale acentuam as migrações a partir do foco Lunda a nordeste (Luvale é a actual designação de uma das línguas e etnias dos povos Bantu que habitam o Moxico e com raiz profunda no reino Munatianvua, ou seja, no antigo império Lunda) mas também relações que vieram ocupar. Mwela, Cokwe, LundaNdembo na tradição, Chinhama é o pilar Luvale, com seu conselheiro Kalwena e outros. Nas nascentes de um certo rio, morreu Kalwena, e esse é o rio que tem o seu nome (actual rio Luena). E o resto do grupo segui para jusante, Os Luvale conheceram o tráfico de escravos interpretando as diferentes tradições: Em parte fizeram-no a partir das investidas de traficantes Ovimbundu e da expansão dos Cokwe.
A sua zona no Alto Zambeze, era ainda instável do ponto de vista dos conflitos inter-africanos, em vésperas da conquista europeia. No Alto Zambeze muitos chefes Mbwela foram derrotados e muita gente do povo Mbwela se tornou Luvale.
Com as disputas fronteiriças entre britânicos e portugueses, a fronteira acabou por ser definida por arbitragem do rei de Itália em 1905, deixando os Luvale repartidos por Belgas, Portugueses e Britânicos em três colónias (hoje Estados) diferentes, mas que mantêm algumas cerimónias conjuntas, uma vez por ano.
O chefe Katende Nja ficou no Congo Democratico (Congo Belga); o grande chefe Kalenge e a chefia Nyakatolo foram incluidos em Angola; as chefias de Ndungu, Chinyama Litapi eKucheka ficaram na Zâmbia (Rodésia do Noroeste).
Apesar da imposição da fronteira os Luvale não criaram outra chefia Kakenge na Zâmbia, continuando a considerar um só Kakenge, aquele cuja sede estava em Angola. E do lado Zâmbiano continuaram a informar-se sobre o lado angolano. Nos meados dos anos sessenta começaram também a ter refugiados angolanos no lado da Zâmbia.
A ignorância europeia em relação às redes de poder na região,na reogarganização de espaços de poder, é o caso dos Luvale da Zâmbia sujeitos pela administração colonial aos Lozi.
José Redinha,refere-se a cerimónias a que assistiu,em que o chefe Kakenge dos Luvale na sua povoação de Lumbala, usou o seu Mukwale (uma espécie de espada de lâmina dupla, e a nota interessante é que Mukwale da chefia principal dos Luvale, Nyakatolo, foi oferecido solenemente ao museu de Antropologia pela própria Rainha Nyakatolo Cissengo, falecida em 1992.Além disso,as rainhas Luvale usam a Chimbangula (coroa Lunda) e o Lucano (Bracelete de tendões).
Ainda sobre a chefia Nyakatolo, a mais importante do saliente do Cazombo e dos Luvale em geral: NGAMBO NYA MIMBUNGO NYAKATOLO, faleceu em 1914, “ano em que os portugueses invadiram a sede do soba Mbumba em Lumbaji”. Os chefes reunidos em Conclave, após os três meses de luto, indicaram para sucessora a sua neta KUTEMBA, filha de NYA MUSSULU CHILOMBO, que governou aproximadamente até 1956.
Como maridos de NYAKATOLO KUTEMBA,SAKATOLO, LIVELE LIWAMBI, JA STIVINI, SACHISSENGO KAMONGA, este o pai da filha NYAULEMBE CHISSENGO, que veio a suceder na chefia, com o nome de NYAKATOLO CHISSENGO.NYAKATOLO KUTEMBA, faleceu em maio de 1956 e jaz no cemitério de Chissamba, no Kazombo (Cazombo), tal como a sua filha falecida a 22 de julho de 1992, e outros chefes .
NYAULEMBE CHISSENGO, a nova NYAKATOLO com o nome de NYAKATOLO CHISSENGO, cuja investidura foi a 27 de janeiro de 1957, em Kavungu, viu a independência de Angola e viveu em boas relações com o governo até ao seu desaparecimento físico.
Foram cônjuges da Rainha: KAMUKHINYA (de quem teve filhos CHIPOYA KAYOMBO e KAUMBA MAYOKHO), FULIPU MUKUMA, MUKOSSAI LUKUNGA, XIMIXI KAYOMBO, ALBE SAPILINHA.
Quanto à língua, durante a migração, todos falavam Lunda. Mas quando Chinhama e seu povo chegaram ao sul do Zambeze encontraram, os MBWELA, oriundos do leste, dando-lhe forma própria e específica: O LUVALE.
MBUNDA
Na área centro-meridional do Moxico, estendendo-se desde a fronteira da Zâmbia (Barotseland, terra dos Lozi) até cerca de 240 km para o ocidente. Com uma paisagem de savanas pobres e matas pouco densas, solos revelando já a proximidade do Kalahari, a zona é muito pouco povoada. Os Mbunda foram incluídos da designação genética de NGANGUELA. No seu caso, o chefe mais destacado foi MWENE BANDO que segundo Ferreira Dinis reporta em 1918, exercia essas funções “há cerca de 20 anos e é uma das poucas autoridades que conseguiu conservar intacto o poder e o prestígio entre os seus subordinados.A sua residência é nas margens do LUATI.”.
O militar português João Almeida em 1909 estabelecera uma série de fortins até aos confins do MUCUSSO, mas isso não significou posterior ocupação em grau significativo. Nos anos 30 finalmente começou uma tentativa de maior ocupação administrativa, sentida sobretudo na região pela obrigação de trabalhos para administração e pela cobrança do imposto indígena.
No censo de 1960, pouco mais de 10% da população da “circunscrição dos Bundas” é dada como cristã, mostrando a pouca influência missionaria, a par da pouca presença económica e administrativa portuguesa.
Com a guerra colonial, muitos refugiaram-se na Zâmbia, muitas aldeias mudaram de sitios, saindo de perto dos rios para dentro das matas, outros foram apanhados para se concentrarem nas “sanzalas da paz ”controladas pelo exercito português, outros juntaram-se às forças da guerrilha. Depois da independência, a zona também pouco tempo teve de paz.
Actividade económica
No passado, o Moxico desempenhou um importante papel no tráfico de escravos e no ciclo da cera da borracha. Caravanas oriundas das mais recônditas regiões do leste rumavam a Benguela, carregadas de cera, borracha e marfim, produtos então estratégicos na economia angolana. Algumas localidades desta província como: Kavungu, kangamba, Lukusse, Muxico Velho, Kangumbe, etc…foram importantes centros mercantis destes produtos, sendo hoje apenas marcos nostálgicos daquela época já distante.
Agricultura e Pesca-Na sua maioria, as populações do Moxico dedicava-se à pesca , à caça ao comércio e ainda à agricultura. Os principais produtos a que mais se dedicam são: Mandioca, Arroz, Jinguba, Milho, Gergelim, Feijão, etc. A criação de Gado Bovino é também outro recurso para a população do Moxico.
Principais riquezas do solo e subsolo-o potencial de recursos minerais da província é economicamente importante. Os seguintes recursos naturais encontram-se no subsolo do Moxico: Diamantes, Cobre, Ferro,etc.
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