O mosteiro Flor da Rosa, situa-se na vila do Crato no distrito de Portalegre. A sua origem perde-se no tempo, é documentado desde D. Sancho II e o atual monumento nacional foi edificado no reinado de D. João I e sofreu posteriormente diversas obras de restauro.
Foi palco de invasões e abandonos, as últimas na Guerra das Laranjas, depois em 1834 com a vitória dos liberais, e novamente no século XX na 1ª República, onde teve lugar a perseguição a tudo o que se relacionasse com a religião católica.
Situa-se numa pequena planície com grande visibilidade no extremo norte da vila. Passaram por aqui os beneditinos, os templários e a Ordem de Malta. Foi refúgio do 1º. Prior do Crato, D. Álvaro Gonçalves Pereira, pai de D. Nuno Álvares Pereira, mais tarde Stº. Condestável, que nasceu em Cernache do Bonjardim. Ainda hoje alberga o túmulo do fundador em mármore rosa carregada de chumbo que os ciganos disparavam nas suas loucuras e quando acampavam no interior.
Durante o Estado Novo a direção do património cuidou de museus e monumentos incluindo o convento Flor da Rosa.
Na fachada sul, a frontaria da torre de menagem ruiu com um raio, parte do edifício desabou e em 1940 fez-se uma grande empreitada para reconstruir com autenticidade a traça do monumento. Houve um problema, não haviam no Alentejo ou disponíveis mestres pedreiros montantes e de cantaria que pudessem conduzir com satisfação a empreitada. Conseguiu-se que viesse uma equipa reforçada de Penafiel, da freguesia de Abragão e arredores e também e do Marco de Canaveses, de artífices que foram contratados para fazer uma empreitada de 6 meses desde março a setembro. O entusiasmo de saírem para longe fez com que não avaliassem os eventuais percalços e desconheciam que no Alentejo as palavras “pressa” e “rápido” não tem sentido, são substituídas por “devagar”, “calma” e “deixe lá isso, compadre”.
A primeira decisão foi adaptar um pedreiro a ferreiro. Todos os fins do dia era preciso afiar, amolar as ferramentas gastas que precisariam no dia seguinte, mas as respostas dos ferreiros e ferradores da terra era sempre a mesma:
- “Compadre, amanhã ou depois ficam servidos”.
Tiveram que adquirir forja, bigorna, aços e utensílios próprios de acabamento e têmpera.
A segunda descontinuidade eram as idas a casa, que demoravam de 8 a 10 dias, só 4 eram para viagens. Tomavam o ramal de Cáceres, linha da Beira Baixa, linha do Norte e linha do Douro e ainda de carroça para as aldeias de cada um.
Os hábitos do dia a dia foram modificados. Todos os pedreiros do Norte, devido à dureza da profissão, às 5h comiam uma bucha e bebiam duas canecas de verde tinto. No Crato comiam um enchido branco a que chamavam cacholeira. O chouriço era substituído por painho que tinha pouca gordura e era acompanhado por carcaça de trigo em vez de broa de milho. O pior era o vinho, mais “borrachão” (14 a 15 graus), bebido em copinhos pequenos, mas eram muitos e quando chegavam à cama já iam com o grão na asa.
Com tantas arrelias, a obra começou a atrasar, chegou a setembro e ainda não ia a meio. Tiveram de continuar no Outono e Inverno, mas no Alentejo em outubro chegou o frio cortante e os ventos de fugir, as obras eram ao ar livre e o estaleiro era no lado sul, mas o vento Suão fazia estragos. O recurso eram as lareiras e paragens do trabalho nas tascas.
Para além das dificuldades da empreitada, começaram a cozinhar à moda dos alentejanos, em panelas de ferro, as moças da terra começaram a ajudá-los e a vontade de visitar as famílias esmoreceu. Até que finalmente a obra acabou. De mais de uma dezena de artífices, só dois regressaram a Penafiel, os outros preferiram as locais do Crato e os mimos que lhes dedicavam e formaram novas famílias alentejanas. Estas ocorrências foram-me relatadas por um guia oficial que é natural da vila e até sabe quem são os descendentes destes forasteiros.
Em 2008 o conjunto do mosteiro e claustros sofrem grandes obras de adaptação a Pousada de Portugal e nos claustros foi criado um museu do património medieval, um polo do Museu Nacional de Arte Antiga. Acompanhei de perto as obras, até porque fica a 12 kms da casa do nosso amigo Filipe Raimundo, que faz o favor de me receber na casa dele em Fortios.
Numa das visitas reparei que numa arrecadação tinha uma placa 1200x3000, onde estavam gravados caracteres góticos em estilo alemão, parecidos aos inscritos nas igrejas luteranas da Baviera. Tentei saber a origem, mas ninguém me conseguiu explicar. As obras na torre de menagem e exterior ficaram concluídas em 1944.
No início do século XXI as celas do mosteiro foram reabilitadas para uma estalagem de luxo, de onde vos falo agora.
Por: José Ferreira "Toneta"
Uma justa Homenagem ao Camarada TONETA. Quanto do Edificado Histórico existe pelo País necessitando de Reabilitação e como no caso, Nova Funcionalidade, ... ... ... à especial atenção da Divisão do Património Cultural do Ministério da Cultura.
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