quarta-feira, 23 de outubro de 2013

S.A.R. O SENHOR D. DUARTE PIO DE BRAGANÇA, PRINCIPE DA BEIRA E A FAP

BA3- Tancos, 1968. Curso PH1/68

Como monárquico, tenho o maior respeito pelo actual Duque de Bragança assim
como uma enorme admiração pelo patriotismo, cultura e comportamento civil do Senhor Dom Duarte. São já tantas as suas obras e tal tem sido a sua enorme contribuição para a grandeza de Portugal que tentar fazer dele o que nunca foi só mancha a “folha limpa” do Senhor Dom Duarte.

Falei longamente sobre o assunto com o historiador Prof. Mendo de Castro Henriques, que é o biógrafo da Casa de Bragança (e, coincidentemente, meu patrono na Sociedade de Geografia de Lisboa) corrigindo-o para o errado grande destaque à acção de D. Duarte na FAP dado no seu livro “Dom Duarte e a Democracia”.
Tudo falso!
Lembrei-o que, quando a verdade acabar por ser exposta (mais cedo ou mais tarde sempre é), os leitores serão tentados a pensar que outros feitos mencionados de grande destaque também o poderão ser.
O que mais me admirou, e devo dizer que me decepcionou, foi que Dom Duarte, que leu o manuscrito antes da publicação, não tenha mandado eliminar o que se refere à sua passagem pela FAP.
Nas férias de verão de 1967 um importador Português de helicópteros oferece ao Dom Duarte a frequência de um curso de PPH (Piloto Privado de Helicópteros) em França. Lá voou em Hughes 300 e obteve a respectiva licença Francesa que foi reconhecida pelo DGAC. Totalizou cerca de 20:00 de voo.

Apesar de não ter concluído o curso complementar dos liceus no Colégio Militar, como seria necessário, foi, mesmo assim, dispensado da recruta.
Mesmo com forte deficiência de visão, foi dado apto para pilotagem pelos serviços médicos da FAP e apresentou-se em Tancos como Soldado Cadete para frequentar o Curso Complementar de Pilotagem de Helicópteros. Vale lembrar que nestas alturas o CCPH só era dado a pilotos já brevetados em T-6 ou T-37. 
Dom Duarte, como Cadete, foi incluído no curso de helicópteros frequentado pelos Aspirantes do curso P1/67, que já tinham sido brevetados em Aveiro (Chipmunk e T-6).
Recebeu a instrução de helicóptero normal com o pequeno detalhe: nunca voo solo (largado).
Um dia foi chamado ao gabinete do Comandante da base que lhe colocou as asas no peito e o promoveu a Aspirante.

Depois da conclusão do curso, um camarada de curso foi um bom amigo e, arriscando a sua própria carreira, num voo de navegação, após uma aterragem, autorizou o Dom Duarte a experimentar um breve voo solo. Este voo “secreto” foi a única vez que Dom Duarte voou solo numa aeronave da FAP.

Ao ser mobilizado para o Ultramar Dom Duarte foi colocado no AB.3 Negage onde não só não existiam helicópteros como era até raro lá passarem!
Apesar de manifestamente Dom Duarte muito desejar voar como os outros pilotos, “to add insult to injury” estava expressamente proibido (sabe-se lá por quem) de voar em monomotores, donde só lhe restava voar como co-piloto no Beech D.18S da base, o que acontecia raríssimas vezes pois todos os outros pilotos também queriam ter essa oportunidade e o avião não voava mais do que uma vez por semana.


Quando eu cheguei ao Negage ele já lá estava havia uns meses.
Era uma pessoa normal, como nós todos e fizemos uma boa amizade. Nos meus passeios de mota à volta do Negage levei comigo várias vezes o então Príncipe da Beira (na altura tratávamo-lo por “tu” pois era, para nós, simplesmente o Duarte, nosso camarada piloto) e foi para mim um fantástico cicerone ao me mostrar os melhores pontos para assistir ao magnífico por do sol Africano

Também fomos várias vezes no seu VW 1500 visitar fantásticas e belíssimas fazendas de café da região do Uíge.
Era um bom Amigo!

O que era engraçado é que, se nós, de Furriel a Tenente o tratávamos por “tu”, de Capitão para cima tratavam-no por “Senhor Dom Duarte” (?!) Como para o Capitão França (Cte da EO) e para o T.Coronel Belo (Cte da Base) a presença do Duarte e a situação que ele vivia de “piloto-não-piloto” só criava embaraços, deixavam-no “desenfiar-se” à vontade (até gostavam!) e assim o Duarte apanhava “boleia” no Noratlas (Guia de Marcha para quê?) e ia para Luanda, e daí para onde quisesse, semanas a fio sem ninguém saber onde parava. 

O “diabo teceu-as” quando o Tcor. Belo foi substituído pelo Tcor. Cruz Novo.
No dia seguinte de lá ter chegado, entra de manhã na sala de “briefing” com uma prancheta na mão onde tinha a lista dos pilotos. Começou a chamar um a um para se apresentarem. Quando diz “Bragança!” o Cap. França disse: “Ah! Esse é o Príncipe, não está cá”.
Quando o Comandante perguntou onde é que ele estava e o Cap. Franca respondeu “não faço ideia!”! Então o Comandante perguntou pela “Guia de Marcha” e quando o Cap. Franca respondeu só com um sorriso o bom do Tcor Cruz Novo, que até era republicano ferranho (como ele próprio o disse) teve um ataque de fúria e gritou: ”Ou amanhã de manhã ele se apresenta no meu gabinete ou eu levanto-lhe um processo por deserção!”
E não estava a brincar!
Como o Cap. Franca sabia que o Zé Inácio Vasconcelos e eu éramos amigos dele, pediu-nos para tentar achá-lo e deixou-nos usar o telefone do gabinete dele. Depois de vários telefonemas para amigos comuns em Luanda lá ficámos a saber que ele estava numa fazenda algures e pedimos para alguém o avisar urgentemente da “pega” em que ele estava metido.
Cinco dias mais tarde lá apareceu o Duarte no Negage, mas o Comandante já tinha mandado abrir o processo.
No dia seguinte foi para Luanda, o Comandante da 2ª.RA deu-lhe por encerrada a comissão e ele foi recambiado para a Metrópole. 


Por mais respeito que eu tenha pela pessoa do Duque de Bragança, e tenho muito, acho um absurdo tentar enaltecê-lo deturpando a verdade, não só contando as suas “façanhas” como piloto, como também afirmando que ele tenha sido corrido de Angola por motivos políticos. 
Esta é a VERDADE dos factos!

João M. Vidal

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